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Rússia fala em abertura, mas aciona velha guarda

Por redacaointer
Atualização:

Ex-funcionários da KGB e veteranos leais a Putin estão entre os promovidos na reforma política projetada por Dmitri Medvedev para responder aos protestos russos

ANDREW E. , KRAMER, THE INTERNATIONAL HERALD TRIBUNE , É JORNALISTA

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O presidente Dmitri Medvedev reagiu aos protestos de rua em Moscou com propostas de reformas políticas. Entretanto, suas recentes nomeações parecem contar uma história diferente: os mais altos postos foram para ex-funcionários da KGB e para veteranos leais ao seu mentor político, Vladimir Putin.

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Medvedev disse esta semana que a lei sobre as reformas deve estar pronta para a análise no Parlamento até meados de fevereiro. Mas sem demora, ele determinou este mês várias promoções entre os membros de uma facção da linha dura do governo russo, conhecida como a dos siloviki, ou "homens fortes", termo que se refere a funcionários que fizeram parte da polícia secreta ou das Forças Armadas.

O cargo mais elevado foi para Sergei B. Ivanov, antigo colega de Putin no escritório de Leningrado da KGB, que foi nomeado chefe de gabinete, um cargo de grande poder no Executivo. Ele não fala em reformas. Ivanov, que foi analista da inteligência especializado na região da Escandinávia durante a Guerra Fria e, em certa ocasião, trabalhou na KGB em Londres, substituirá Sergei Naryshkin, ex-diplomata soviético.

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Naryshkin foi para o Parlamento, onde exercerá a função de presidente, representando o Partido Rússia Unida.

O enviado da Rússia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Dmitri Rogozin, conhecido como nacionalista irascível, sem papas na língua, que certa vez pendurou um cartaz de Stalin em seu gabinete em Bruxelas, foi nomeado vice-primeiro-ministro encarregado do complexo industrial-militar.

Finalmente, o vice-chefe de gabinete do Kremlin, Vladislav Surkov, que era encarregado da política interna, passou para um posto de vice-primeiro-ministro. Ele foi substituído pelo ex-chefe de gabinete de Putin no escritório do primeiro-ministro, Vyacheslav Volodin, um político legalista que este ano ajudou a formar um movimento político nacional pró-Putin, chamado Frente Popular.

Interpretar o significado dessas mudanças é uma ciência reconhecidamente imprecisa - em sintonia com a prática da "kremlinologia" usada para analisar a posição dos burocratas no Mausoléu de Lenin durante as paradas militares. Mesmo assim, os críticos de Putin afirmam que elas contradizem as promessas de reforma. A nomeação de Ivanov, particularmente, parece uma réplica aos manifestantes.

"As esperanças de alguns russos de que esse regime possa mudar mediante a educação, a instrução propriamente dita ou com argumentos convincentes não têm fundamento", escreveu esta semana numa mensagem num blog Andrei Illarionov, um ex-assessor econômico de Putin. "Todas as esperanças em sua capacidade de evoluir rumo à democracia e à liberalização desapareceram."

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Dmitri Oreshkin, um membro da comissão de assessores presidenciais sobre os direitos humanos, disse que os nomeados são "homens que agem de maneira direta e decidida no estilo soviético". "Se você for contra nós, levará uma pancada na cabeça."

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Depois do primeiro dos dois protestos em Moscou - as maiores manifestações de rua desde que Putin chegou ao poder -, Medvedev afirmou num discurso que restauraria as eleições diretas para governadores, abrandaria as normas de registro dos partidos políticos e retiraria o caráter oficial da televisão estatal. Essas mudanças foram apresentadas como concessões.

Putin, por sua vez, disse na quarta-feira a jornalistas russos, numa comemoração durante as festas de ano-novo, que "é preciso que haja diálogo" com a oposição e prometeu "pensar de que maneira isso poderá acontecer". Mas deixou claro que isso não ocorreria tão cedo.

Ivanov e Putin se conhecem desde que trabalharam no escritório de Leningrado da KGB, na década de 80. Ivanov, ex-ministro da Defesa, é tão próximo a Putin que chegou a ser considerado um plausível sucessor à presidência em 2008, antes que Putin endossasse Medvedev. Rogozin foi promovido a vice-primeiro-ministro encarregado da produção de armamentos.

Depois que Medvedev anunciou a sua nomeação numa reunião na residência de Gorki, nos arredores de Moscou, Rogzin afirmou que usará um "punho de ferro" para que o setor funcione devidamente, porque a Rússia prepara um importante programa de rearmamento. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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