Furacão Sandy já castiga Costa Leste dos Estados Unidos

PUBLICIDADE

Por DANIEL TROTTA E TOM HALS
Atualização:

O furacão Sandy, uma das maiores tempestades da história dos Estados Unidos, castiga nesta segunda-feira áreas densamente habitadas da Costa Leste, paralisando transportes, provocando a desocupação de áreas alagáveis e interrompendo a campanha para a eleição presidencial da semana que vem. Ventos fortes e inundações estão previstos para um trecho de centenas de quilômetros da costa atlântica norte-americana, e há previsão de nevascas fortes mais para o interior, em altitudes mais elevadas, quando o centro da tempestade chegar à costa, o que deve acontecer na noite desta segunda-feira nos arredores de Atlantic City, em Nova Jersey. As bolsas de valores do país fecharam pela primeira vez desde os atentados de 11 de setembro de 2001 e continuarão sem funcionar na terça-feira. Órgãos públicos fecharam em Washington e aulas foram canceladas em toda a Costa Leste. Quase 700 mil moradias e empresas estavam sem luz ao meio-dia, e o apagão pode se ampliar até milhões de consumidores. Uma empresa de prevenção de desastres estimou que os prejuízos podem chegar a 20 bilhões de dólares, sendo metade do valor coberto por seguro. "Essa será uma tempestade grande e poderosa e acredito que todos ao longo do litoral leste estão se preparando de forma apropriada", disse o presidente norte-americano, Barack Obama, na Casa Branca. Governadores estaduais de Virgínia a Massachusetts alertaram para o grave perigo decorrente da tempestade para 60 milhões de moradores na sua rota. Dez Estados declararam situação de emergência. "Sem dúvida haverá algumas mortes causadas pela intensidade dessa tempestade, pelas inundações, pela ressaca, pelas ondas. Quanto mais responsavelmente os cidadãos agirem, menos pessoas irão morrer", disse a jornalistas o governador de Maryland, Martin O'Malley. Meteorologistas dizem que o Sandy pode ser a maior tempestade já registrada no território continental dos Estados Unidos. Na costa da Carolina do Norte, a Guarda Costeira resgatou 14 de 16 tripulantes de uma réplica do navio histórico HMS Bounty. O grupo foi salvo de helicóptero, após abandonar o barco em botes. Dois tripulantes continuam sendo procurados. Em Nova York, um guindaste no topo de um prédio na rua 57, em Manhattan, desmoronou parcialmente e ficou pendurado sobre a rua. A polícia interditou a área para pedestres. MAIS VELOZ A oito dias da eleição presidencial, Obama cancelou um compromisso de campanha na Flórida, nesta segunda-feira, e voltou a Washington para monitorar a reação governamental à tempestade. O candidato republicano a presidente, Mitt Romney, cancelou eventos na noite de segunda-feira e na terça-feira. Na tarde desta segunda-feira, o furacão avançava para noroeste, na direção da costa norte-americana, a 45 quilômetros por hora, com ventos regulares de até 150 quilômetros por hora, segundo o Centro Nacional de Furacões (CNF). O Sandy se movia rapidamente em direção a Nova Jersey e Delaware. Às 19h (horário de Brasília), ele estava 45 quilômetros a leste-sudeste de Cape May e 65 quilômetros ao sul de Atlantic City, em Nova Jersey, segundo o mais recente boletim do CNF. O furacão ganhou velocidade ao se mover para noroeste em direção à costa a 45 quilômetros por hora, com ventos máximos sustentados de 150 quilômetros por hora. Segundo meteorologistas, essa é uma rara "supertempestade híbrida", criada por uma massa de ar polar que acabou por envolver uma tempestade tropical. Só isso já seria bastante ruim, mas há ainda uma terceira tempestade em ação, um sistema que desce do Canadá, e que vai acabar por barrar o furacão principal, mantendo-o parado. Além disso, a tempestade deve chegar em terra num horário de maré alta, reforçada pela lua cheia. Embora não tenha a força do Katrina, que devastou Nova Orleans em 2005, o Sandy vem se fortalecendo. Ele matou 66 pessoas na semana passada no Caribe, e nos últimos dias seus efeitos já puderam ser sentidos nos Estados Unidos. Na praia de Rehoboth, em Delaware, as ruas já estão inundadas, e a polícia vai de casa em casa ordenando que as pessoas saiam. Quem não aceita tem seu nome anotado e é autorizado a permanecer por sua conta e risco. "ALGO COMO O KATRINA" Em Fairfield, Connecticut, a população também está sendo orientada a sair. "As pessoas definitivamente não estão levando isso suficientemente a sério", disse a policial Tiffany Barrett, de 38 anos. "Nosso maior temor é algo como o Katrina, e não podermos chegar até as pessoas." Além das chuvas, a tempestade pode causar a precipitação de até 1 metro de neve nos montes Apalaches, de Virgínia Ocidental até o Kentucky. Algumas pessoas dessas regiões foram dispensadas do trabalho e aproveitaram para votar. As seções que recebem votos antecipados continuaram funcionando, e o movimento foi considerado excepcional pelos mesários em algumas seções. APAGÕES DE TAMANHO RECORDE Nova York e outras cidades importantes paralisaram seus sistemas de transportes e cancelaram aulas, além de ordenarem a retirada de moradores de áreas suscetíveis à inundação por uma ressaca que deve atingir até 3,4 metros. Na manhã desta segunda-feira, a água já batia na amurada do Battery Park, em Manhattan, uma das áreas que a prefeitura determinou que sejam desocupadas. O prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, recomendou que 375 mil moradores da cidade deixem suas casas. "As condições estão se deteriorando rapidamente, e o prazo para que vocês saiam com segurança está se encerrando." A empresa elétrica Con Edison, que atende Nova York, previu "apagões de tamanho recorde", atingindo quase 35 mil usuários em Manhattan e Brooklyn. Queda de árvores e inundações são os maiores problemas para as redes elétricas. Em toda a Costa Leste, moradores lotavam supermercados atrás de geradores, lanternas, pilhas, comida e outros suprimentos. O dono da loja Best Buy Wines and Liquors, Johnny Lopez, no Brooklyn, planejava permanecer aberto na segunda e terça-feira. "Foi uma loucura ontem. Era que nem Ação de Graças. Deus nos ajude!" O transporte parou na costa nordeste dos Estados Unidos por causa da aproximação do furacão, afetando viagens ferroviárias, navais e aéreas até na Europa e Ásia, enquanto o tráfego de cargas também foi prejudicado. (Reportagem adicional de Greg Roumeliotis, Edith Honan, Janet McGurty e Martinne Geller, em Nova York; de Barbara Goldberg, em Nova Jersey; de Mary Ellen Clark e Lynnley Browning, em Connecticut; de Daniel Lovering, em Boston; de Ian Simpson, em Virginia Ocidental; de Susan Heavey, em Washington; e de Jane Sutton, em Miami)

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.