O governo chileno pediu nesta segunda-feira à Bolívia que contenha suas tentativas de "desestabilizar a relação bilateral", após uma declaração do governo boliviano para que o Chile respeite o sistema internacional da Organização das Nações Unidas e aguarde a decisão de um tribunal sobre a competência de uma disputa envolvendo um acesso soberano ao oceano Pacífico. A reação incomum do governo chileno ocorre após a declaração da Bolívia, na qual disse que não pretende modificar um tratado, nem nenhuma fronteira, mas pedir a um tribunal que obrigue o Chile a negociar um acesso ao mar. O governo chileno rejeita categoricamente essa possibilidade. "O Chile reitera ao país vizinho que, em vez de tentar brigar por meio da imprensa e vários fóruns internacionais, contenha suas tentativas de desestabilizar a relação bilateral e busque medidas concretas para desenvolver uma relação construtiva", segundo um comunicado do Ministério das Relações Exteriores chileno. Em abril, a Bolívia recorreu à Corte Internacional de Justiça (CIJ) em sua luta de décadas para recuperar o acesso ao oceano Pacífico, depois de tê-lo perdido em uma guerra contra o Chile no século 19. O Chile tem desafiado a jurisdição da CIJ no caso, já que existe um tratado com a Bolívia que fixa suas fronteiras, alegando, então, que não se trata de um caso a ser analisado pela Corte. No entanto, o governo de La Paz insiste que não quer mudar as fronteiras, mas forçar Santiago a negociar uma saída soberana ao mar. "A Bolívia pediu à Corte Internacional de Justiça que declare que o Chile tem uma obrigação pendente de negociar com a Bolívia, entendendo que a negociação é a base do sistema internacional e evitá-la poderia colocá-lo em risco", disse o comunicado do Ministério das Relações Exteriores boliviano. Os dois países não têm relações diplomáticas desde 1978. A chancelaria argumentou que a ordem internacional exige o pleno respeito dos tratados. "A Bolívia insiste que o Chile tem a obrigação de negociar com ela uma saída soberana ao mar. Que sistema internacional obriga a negociar somente porque um país deseja fazê-lo e para obter uma cessão não acordada de território?", disse. (Reportagem de Antonio de la Jara, com reportagem adicional de Fabián Andrés Cambero)