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Conservador argentino ‘contrata’ rivais

Prefeito de Buenos Aires e conhecido por exaltar feitos à frente do Boca Juniors, Macri arma ‘time heterogêneo’ contra kirchnerismo

Por Rodrigo Cavalheiro e CORRESPONDENTE
Atualização:

BUENOS AIRES - O empresário Mauricio Macri, reeleito em 2011 para a prefeitura de Buenos Aires com 64% dos votos, chegou a fevereiro com esse mesmo porcentual de aprovação. Duas pesquisas o colocam pela primeira vez em vantagem na disputa para suceder a Cristina Kirchner. Apesar da boa fase, o ex-presidente do Boca Juniors divide especialistas e eleitores com uma obsessão: reforçar seu time sem dar bola para a formação dos aliados. Sua última “contratação” ganhou fama no automobilismo. O senador e ex-piloto Carlos Reutemann governou duas vezes a Província de Santa Fé (1991-1995 e 1999-2003), terceiro colégio eleitoral do país. Peronista, começou a romper com a presidente Cristina Kirchner por ser também ruralista. Foi em 2008, na chamada crise do campo, quanto a presidente perdeu uma queda de braço ao tentar aumentar impostos cobrados dos fazendeiros. Na sexta-feira, Reutemann e Macri apareceram na maior feira agropecuária do país, no quintal político do senador. O ex-piloto está cotado para ocupar a vice-presidência na chapa comandada pelo partido Proposta Republicana (PRO), criado e liderado pelo prefeito da capital. Em pouco mais de um mês, Macri fez outras duas jogadas ousadas. No fim de janeiro, atraiu a deputada Elisa Carrió, a mais ouvida voz antikirchnerista do país, identificada com a centro-esquerda. Na quinta-feira, formalizou uma aliança regional com a União Cívica Radical (UCR) e obteve um sinal de que ela se estenderá à campanha nacional. A UCR é o partido de oposição com mais estrutura nas províncias, onde Macri perde terreno. “De alguma maneira, a união com Reutemann aproxima Macri do peronismo e da governabilidade. Mas não estou certa de que uma aliança tão ampla seja sustentável. A experiência no país nos diz que não”, pondera a analista política Mariel Fornoni, diretora da consultoria Management & Fit. Em pesquisa publicada há duas semanas, seu instituto deu a Macri 27% das intenções de voto. O possível candidato governista Daniel Scioli - um peronista moderado -, aparece com 23%. Em seguida vem Sergio Massa, ex-kirchnerista, com 18%. Outro levantamento, da consultoria Poliarquía, mantém a mesma ordem, com os porcentuais de 28%, 26% e 24%. “Pode-se dizer que Macri é o ganhador dessa fase eleitoral, mas isso é a Argentina e a velocidade das mudanças é imprevisível. A aquisição de Reutemann é simbólica, pois tira uma peça de Massa e põe uma figura conhecida em sua campanha”, avaliou Fabián Perechodnik, diretor da Poliarquía. É indiscutível o status de celebridade de Reutemann, mas há divergência sobre seu peso eleitoral. Defensores lembram de administrações bem avaliadas. Detratores apontam um defeito dos tempos de automobilismo: a falta de arrojo - o ápice de sua carreira foi o vice-campeonato em 1981, título perdido para Nelson Piquet por 1 ponto. Quando questionado sobre a amplitude da coalizão que está montando, Macri costuma dizer que o mais importante é ter “pessoas boas”, com “vontade de fazer”. Defensor da livre iniciativa, diz acreditar em bons gestores, não importando de qual corrente ideológica. Para se aproximar do ex-piloto, causou espanto nos mais pragmáticos ao dizer que compartilhava “os valores do peronismo”, mas não do kirchnerismo. Em casa. Macri está longe de ser unanimidade no bairro de origem italiana em que presidiu o Boca Juniors. Entre moradores mais pobres, é recriminado por “só fazer ciclovias”, ter lesado os cofres do clube e tratado mal a ídolos como o jogador Juan Riquelme e o treinador Carlos Bianchi. “Ele usou o clube como vitrine. Fala sempre do que fez, mas se tentar ser presidente do clube (novamente) não terá um voto”, opinou Ricardo Domínguez, enquanto virava um filé na grelha ao ar livre que mantém ao lado do estádio. Para Fernando Stagnaro, dono de uma cantina conceituada na região, o prefeito faz um bom trabalho. “Só não entendo muito essas alianças. Talvez sejam necessárias para conseguir chegar ao fim do mandato.”

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