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Crise e escassez levam Chávez a subir preços em até 147%

Desemprego, que subiu 10% em um ano, e queda da cotação do petróleo ameaçam popularidade de líder

Por Ruth Costas
Atualização:

A crise global pode ser capitalista, mas o socialismo bolivariano do presidente Hugo Chávez não está ajudando muito a atenuar seus efeitos na vida dos venezuelanos. O governo anunciou ontem um aumento dos preços dos produtos tabelados, que são os que enchem as prateleiras dos mercados estatais subsidiados, os Mercais. O leite subiu 33%; a sardinha (produto bastante consumido pelos venezuelanos), 147%; o queijo, 8%; e o açúcar deve subir 47% em outubro. Só o óleo de cozinha teve uma redução de 15% por causa da safra.

 

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Além disso, se antes havia escassez de alimentos básicos, agora falta tudo, além de empregos. O desemprego subiu mais de 10% no último ano (eram 888 mil desempregados há um ano; hoje são 999 mil), segundo dados também divulgados ontem pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE). Há seis anos não havia uma alta. No total, mais 111 mil venezuelanos ficaram desempregados e 226 mil passaram para a informalidade.

 

"A queda do preço do petróleo já começou a ter um impacto grande no dia a dia dos venezuelanos", disse ao Estado o economista Maxim Ross, diretor de uma consultoria que leva o seu nome, em Caracas. Para ele, as dificuldades podem atingir a popularidade de Chávez, apesar de ele ainda ter bastante apoio. "Nos períodos de bonança, o governo gastou todo o dinheiro em vez de engrossar as reservas do país. Agora, está ficando sem recursos para manter os subsídios aos mercados populares e importar todo tipo de produtos", diz Ross.

 

O que trava as importações é a falta de dólares para pagar fornecedores e credores. Como nos últimos anos o setor privado encolheu drasticamente por falta de investimentos, a demanda é grande pelos produtos de fora. Um órgão do governo chamado Cadivi é quem decide a liberação de dólares para as empresas comprarem mercadorias. O processo é lento e nem sempre se obtém a autorização.

 

A General Motors da Venezuela, por exemplo, anunciou ontem que terá de paralisar sua linha de montagem se o governo não liberar divisas para o pagamento de uma dívida de US$ 1,15 bilhão com fornecedores japoneses e coreanos. A falta de material para o setor de construção - tubos, cabos, cimento, bombas hidráulicas - também ameaça diminuir o ritmo das obras de conjuntos habitacionais populares. Chávez tenta resolver o problema à sua maneira: na semana passada, por exemplo, disse que expropriará as máquinas das construtoras se houver paralisação.

 

Nas ruas as reclamações são muitas. "Hoje está difícil de encontrar tudo - já é a quinta farmácia que vou à procura de um remédio", diz José Ortivera, de 39 anos, que tem uma pequena gráfica informal e reclama de não conseguir papel e outros materiais para trabalhar. "Os alimentos subiram muito e o dinheiro não chega mais ao fim do mês", acrescenta Ana María Nuñez.

 

A economia venezuelana foi uma das que mais cresceram na América Latina nos últimos anos, com uma média de mais de 10% de aumento do PIB de 2003 até o primeiro semestre de 2008 (antes de explodir a crise). Mas desde que Chávez chegou ao poder, os gastos públicos também dispararam. De US$ 12 bilhões, em 1998, saltaram para um pico de US$ 140 bilhões, em 2007. Com o fim do boom petrolífero, o presidente foi obrigado a reduzir seus gastos.

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O orçamento da estatal PDVSA - que além de explorar petróleo atua em setores como construção e distribuição de alimentos - foi cortado em 65%. A receita com as exportações de petróleo este ano deve ser de US$ 40 bilhões, metade dos US$ 80 bilhões do ano passado (quando o barril venezuelano chegou a US$ 120). "Se a economia país já estava complicada antes da queda dos preços do petróleo, agora temos o caos", diz Ross.

 

A PDVSA anunciou que vai emitir bônus em bolívares para pagar credores nacionais. Em 2008, a dívida da empresa já cresceu 146%.

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