De volta a Honduras, Zelaya diz que é 'restituição ou morte'

Governo de facto protesta contra Brasil por abrigar líder deposto em embaixada e pede que ele seja entregue

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Por Redação
Atualização:

Manuel Zelaya saúda apoiadores em frente è embaixada brasileira em Tegucigalpa. Foto: Reuters

 

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TEGUCIGALPA - O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, disse nesta segunda-feira, 21, que ninguém voltará a tirá-lo de seu país, e que as palavras de ordem após seu retorno continuam sendo "pátria, restituição ou morte". Por sua vez, o presidente de facto, Roberto Micheletti, pediu que o Brasil entregue Zelaya, que está abrigado na representação do País em Tegucigalpa. "Pedimos que o Brasil respeite a ordem judicial contra o senhor Zelaya e o entregue às autoridades competentes de Honduras", afirmou Micheletti em mensagem televisionada.

 

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"A partir de agora, ninguém voltará a nos tirar daqui. Por isso, nossa posição é pátria, restituição ou morte", enfatizou Zelaya diante dos milhares de simpatizantes que permanecem em frente à embaixada brasileira. O governo interino protestou contra o Brasil, e responsabilizou o País por qualquer ato de violência que possa acontecer perto da sede diplomática.

 

"É inaceitável para o Governo da República a conduta de tolerância da embaixada brasileira, ao permitir que se formulem chamados públicos à insurreição e à mobilização política por parte do senhor José Manuel Zelaya Rosales, fugitivo da Justiça hondurenha", assinala uma nota do governo Micheletti dirigida è embaixada brasileira, divulgada pela chancelaria hondurenha. "Tal ingerência nos assuntos privados dos hondurenhos é condenável e por tal motivo se protesta de maneira enérgica", pois isso "constitui uma flagrante violação do direito internacional", acrescenta.

 

Logo após o retorno de Zelaya, Micheletti decretou toque de recolher em todo o país, com início às 16h e término às 7h de terça-feira. A medida foi anunciada pelo rádio e televisão. Em um breve comunicado, o governo interino indicou que o toque de recolher é "devido a eventos ocorridos nas últimas horas", com o objetivo de "proteger a tranquilidade, a vida e os bens das pessoas."

 

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Antes da confirmação de que Zelaya estava na embaixada brasileira, Micheletti afirmou em entrevista coletiva que sua administração dispunha de "provas de que Zelaya não estaria em Honduras" e que o líder "estaria tranquilo em uma suíte de um hotel da Nicarágua". Segundo o presidente de facto, um jornalista local estaria fazendo "terrorismo midiático para provocar a população". Ainda não está claro como Zelaya retornou ao país.Participação brasileiraEm Nova York, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, confirmou que Zelaya chegou ao local por meios próprios. A mulher do presidente deposto disse que o marido está bem e pronto para iniciar o diálogo para resolver a crise. "Agradeço ao presidente Lula por permitir a entrada dele na embaixada", afirmou Xiomara Castro. Na sede da representação brasileira, Zelaya disse a jornalistas que retornou a Honduras para dialogar e desenhar um caminho de retorno à paz e à tranquilidade. Mais cedo, o líder deposto havia afirmado em entrevista por telefone que voltou ao país e pediu por um "diálogo nacional e internacional."

 

"Não posso dar mais detalhes, mas já estou aqui", disse Zelaya ao canal 36 da televisão local. Anteriormente, a chanceler do governo de Zelaya, Patricia Rodas, havia dito que ele estava na sede das Nações Unidas (ONU) na capital, embora o escritório da ONU na cidade houvesse negado a informação.

 

OEA convoca reunião

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A Organização dos Estados Americanos (OEA) convocou uma reunião de emergência para o final da tarde de hoje. O secretário-geral do órgão, José Miguel Inzulza, pediu, em nome do órgão, que o governo de facto garanta a integridade física de Zelaya e a segurança da embaixada brasileira.

 

"Queremos pedir calma aos envolvidos neste processo, e assinalar às autoridades do governo de facto que devem se fazer responsáveis pela segurança do presidente Zelaya e da embaixada do Brasil", afirmou Insulza em comunicado. Ele afirmou ainda que considera viajar ao país "o mais rápido possível."

 

EUA pedem calma

 

O porta-voz do departamento de Estado dos EUA, Ian Kelly, pediu calma a ambos os lados da disputa política. "Creio que no momento tudo que se pode dizer é reiterar nosso pedido diário para que ambas as partes desistam de ações que tenham um desenlace violento", disse.

 

A secretária de Estado, Hillary Clinton, e o presidente costarriquenho, Oscar Arias, disseram esperar que o retorno de Zelaya ao país possa servir para solucionar a crise política. Em declarações concedidas à imprensa hoje após uma reunião em Nova York, Hillary expressou sua esperança de que "todas as partes voltem à mesa de negociações" após o retorno de Zelaya.  

Chávez exalta Zelaya

 

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, também comentou o retorno do líder deposto. "Informo que o presidente Zelaya, viajando durante dois dias por terra, cruzando montanhas, rios, arriscando sua vida, com apenas quatro companheiros, conseguiu chegar à capital de Honduras e está em Tegucigalpa", afirmou."Exigimos aos golpistas que respeitam a vida do presidente, que entreguem o poder pacificamente", acrescentou o líder venezuelano, que vai entrar imediatamente em contato com outros governos da América Latina e de outras partes do mundo para ativar as iniciativas previstas para o retorno de Honduras à ordem constitucional e democrática.

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Texto atualizado às 21h45. 

 

(Com AP, Efe, Reuters e Agência Estado)

 

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