TEGUCIGALPA - O candidato conservador Porfirio Lobo venceu as eleições presidenciais de Honduras, celebradas no domingo. Agora, Lobo trabalhará para validar sua vitória no exterior e nacionalmente, no país em crise desde o golpe de 28 de junho que derrubou o presidente Manuel Zelaya.
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"Não há tempo para divisões", disse Lobo, ainda na noite de domingo. Apelidado de "Pepe", será do conservador de 61 anos a missão de tentar encerrar a crise.
Lobo prometeu levar de volta ao país o necessário investimento internacional, além de formar um governo de união nacional. Os Estados Unidos rapidamente mostraram apoio às eleições. O porta-voz do Departamento de Estado, Ian Kelly, qualificou a disputa como "um necessário e importante passo adiante".
Peru, Panamá e Costa Rica já disseram que pretendem apoiar a disputa. Já o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou no domingo, em Estoril, que o País não reconhecerá o presidente eleito. Segundo Lula, trata-se de "firmar posição contra um processo eleitoral coordenado por golpistas".
Em Genebra, o chanceler brasileiro, Celso Amorim, afirmou ao "O Estado de S. Paulo" que avaliará a partir de agora se fecha a Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, ou se manterá a representação em um nível mais baixo. Segundo ele, não será enviado um embaixador ao país para representar o Brasil diante do governo eleito. Reportagem do sábado do jornal afirma que Zelaya - que está abrigado na embaixada brasileira desde sua volta a Honduras, em 21 de setembro - pode pedir asilo à Nicarágua. A informação foi atribuída a uma fonte ligada ao líder deposto.
Além do Brasil, Argentina e Venezuela não pretendem reconhecer as eleições. Outras nações, como França, Colômbia, Polônia e apão já deram sinais de que devem reconhecer a disputa.
O comparecimento às urnas foi de 61,3% dos 4,3 milhões de hondurenhos aptos a votar, segundo funcionários eleitorais.Zelaya pediu que o processo fosse boicotado.
Com mais de 60% dos votos apurados, Lobo, do Partido Nacional, liderava com 55,9% dos votos. Pouco após, seu rival Elvin Santos, que tinha 38% dos votos, admitiu a derrota. Santos é do Partido Liberal, o mesmo de Zelaya e do presidente de facto, Roberto Micheletti.
O analista Kevin Casas-Zamora, do Brookings Institution, afirmou que, com o tempo, mais países devem reconhecer as eleições. Segundo ele, como o comparecimento foi superior a 50% e não houve evidências de fraude, esse processo de reconhecimento deve se ampliar.
Em entrevista nesta segunda-feira à local Rádio Globo, Zelaya acusou os funcionários eleitorais de inflarem o comparecimento às urnas. Em San Pedro Sula, centenas de partidários do líder deposto fizeram uma manifestação no domingo, encerrada pela polícia com gás lacrimogêneo e jatos d'água. Jornalistas e ativistas disseram que dezenas de pessoas foram agredidas e presas.
Grupos de direitos humanos condenaram o ambiente de intimidação e medo antes das eleições. Também condenaram a perseguição dos militares aos dissidentes, após o golpe. Dezenas de observadores independentes monitoraram a votação, porém a Organização das Nações Unidas e a Organização dos Estados Americanos (OEA) se negaram a fazê-lo.
O Congresso deve decidir nesta quarta-feira sobre o retorno ou não de Zelaya ao poder, por um breve período até o novo presidente assumir, em 27 de janeiro. O próprio Zelaya, porém, diz que não pretende retornar ao cargo, pois isso na opinião dele legitimaria o golpe.