Texto de acordo militar com EUA reacende críticas na Colômbia

Documento prevê que militares e aeronaves dos EUA poderão usar aeroportos civis no território colombiano

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Por Hernando Salazar
Atualização:

A publicação do texto do acordo militar firmado na última sexta-feira entre Colômbia e Estados Unidos reacendeu a polêmica sobre o assunto no país andino.A controvérsia está relacionada ao item do acordo que prevê que aeronaves militares e oficiais das Forças Armadas dos EUA poderiam não apenas usar setes bases da Colômbia, mas também os sete aeroportos internacionais do país em condições que ainda não estão claras. Um dos artigos do acordo indica que se estabelecerá "um mecanismo para determinar o número estimado de voos que utilizarão os aeroportos internacionais, em conformidade com a normativa colombiana". O acordo também deixa aberta a possibilidade de que oficiais e equipamentos militares dos EUA usem "as demais instalações que convenham as partes ou suas Partes Operativas". Essas cláusulas - conhecidas apenas após a divulgação do texto completo - reacenderam o debate sobre o acordo entre os dois países. "Esse é um acordo de ocupação", disse à BBC Mundo o senador Gustavo Petro, candidato presidencial do partido de esquerda Polo Democratico Alternativo, PDA. "Se trata de um acordo illegal que não conta com a aprovação do Senado da Colômbia, como prevê a Constituição. Por isso, esse pacto não tem eficácia jurídica e pode ser denunciado perante os tribunais internacionais", afirmou. De acordo com ele, é "lamentável que o presidente Barack Obama não seja capaz de romper com essas políticas que vêm liderando os EUA há muitos anos". Segundo o candidato, o texto firmado entre Bogotá e Washington não impõe limites à presença de oficiais militares e funcionários civis dos EUA na Colômbia. Defesa Mas Jairo Clopatofsky, senador do Partido de la U, principal força política que apóia o presidente, Álvaro Uribe, disse que serão apenas 800 militares e 600 civis contratados, como já havia afirmado o governo colombiano. Clopatofsky defendeu o acordo e admitiu que o pacto terá um efeito "dissuasivo" sobre o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. "Chávez reagiu com o fechamento da fronteira porque tem delírios de perseguição e porque se deu conta de que não é o líder latino-americano que pretendia ser e que já foi superado por outros, como o presidente Lula, do Brasil", disse Clopatofsky à BBC Mundo. O senador, que faz parte da coalizão majoritária que apóia o governo no Congresso, disse ainda que "os Estados Unidos são o único país que apoiou a Colômbia em sua luta contra o narcotráfico e a guerrilha". O governo de Uribe tem insistido que o acordo, que terá vigência de dez anos, será para realizar unicamente missões militares em território colombiano, dirigidas para combater o narcotráfico e o terrorismo. Segundo o correspondente da BBC na Colômbia Jeremy McDermott, "a Colômbia está cada vez mais isolada na região, mas não parece preocupada, contanto que tenha o apoio dos EUA".

 

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