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Cameron ameaça tirar Grã-Bretanha da UE se não puder reduzir benefícios a imigrantes

Pesquisas mostram que a imigração é a principal preocupação dos britânicos, muitos dos quais acreditam que impõe um fardo intolerável em escolas, hospitais e no sistema de bem-estar social

Por KYLIE MACLELLAN E ANDREW OSBORN
Atualização:
O primeiro-ministro da Grã-Bretanha, David Cameron Foto: Oli Scarff/AP

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, insinuou nesta sexta-feira que pode recomendar a saída de seu país da União Europeia se a entidade o impedir de restringir o acesso de imigrantes a recursos de bem-estar social, mas disse confiar que não será preciso ir tão longe.

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Em um discurso concebido para dar novo fôlego à sua campanha de reeleição em maio, Cameron detalhou seu plano para limitar os benefícios a imigrantes da UE, como créditos fiscais e moradia.

Fazendo uma exigência que deve encontrar grande resistência de líderes do bloco, como a chanceler alemã, Angela Merkel, Cameron afirmou que suas propostas exigem mudanças em tratados da UE, que valoriza a liberdade de movimento como princípio fundamental.

Se reeleito, Cameron já prometeu renegociar os laços britânicos com a UE antes de realizar um referendo em 2017 para decidir a permanência ou o rompimento de seu país com a união de 28 nações. Embora deixando claro que acredita que a renegociação será bem sucedida, ele fez a insinuação mais forte até agora de que pode defender a saída da Grã-Bretanha do bloco.

“Negociarei um corte na migração da UE e farei da reforma do bem-estar social uma exigência absoluta na renegociação”, declarou.

“Se tiver sucesso na negociação que farei, defenderei, como disse, a manutenção deste país em uma UE reformada. (Mas) se nossas preocupações não forem ouvidas e não pudermos colocar nosso relacionamento com a UE em um patamar melhor, então é claro que não descarto nada”.

Pesquisas de opinião mostram que a imigração é a principal preocupação dos eleitores britânicos, muitos dos quais acreditam que impõe um fardo intolerável em escolas, hospitais e no sistema de bem-estar social. Os defensores do sistema dizem que a maioria dos recém-chegados são trabalhadores jovens, muitos do leste europeu, que encontram emprego, pagam impostos e exigem pouco do bem-estar social.

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O tema fez crescer a popularidade do Partido da Independência da Grã-Bretanha (Ukip, na sigla em inglês), que é anti-União Europeia e anti-imigração e que neste mês conquistou sua segunda cadeira no parlamento. Muitos dos parlamentares do Partido Conservador, de Cameron, temem que a ascensão do Ukip ameace suas chances de se reeleger.

“Nossas preocupações não são extravagantes ou insensatas. Merecemos ser ouvidos, e devemos ser ouvidos. Não somente pelo bem da Grã-Bretanha, mas pelo resto da Europa”, afirmou o premiê.

“Porque o que está acontecendo na Grã-Bretanha não se limita a ela. Em toda a UE, as questões da imigração estão causando uma grande preocupação”, acrescentou.

Cameron declarou querer que imigrantes da UE empregados esperem quatro anos antes de terem permissão de recorrer aos benefícios do bem-estar social, e que os desempregados não tenham possibilidade de receber nenhuma ajuda.

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Em Bruxelas, o porta-voz da Comissão Europeia disse: “Estas são ideias da Grã-Bretanha e são parte do debate. Elas terão que ser discutidas sem drama, deveriam ser discutidas com calma e cuidado. Depende dos parlamentares nacionais combater abusos do sistema, e a legislação da UE permite isso”.

Pelas regras de livre movimentação da união, seus cidadãos têm direito de trabalhar em qualquer país do bloco. Isso levou centenas de milhares a irem trabalhar na Grã-Bretanha – 228 mil este ano até junho, segundo dados divulgados na quinta-feira.

Nigel Farage, líder do Ukip, disse a respeito do discurso de Cameron: “É uma tentativa cínica de varrer o tema para debaixo do tapete até depois da eleição. Não acho que uma pessoa sequer na Grã-Bretanha engoliu qualquer parte do que ele disse hoje”.

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