Militar alemão renuncia por ocultar morte de civis afegãos

Jornal diz que chefe das Forças Armadas escondeu número de vítimas em bombardeio; 142 podem ter morrido

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Por Redação
Atualização:

O chefe das Forças Armadas da Alemanha, Wolfgang Schneiderhan, renunciou nesta quinta-feira, 26, depois que um jornal publicou que o Ministério escondeu informação sobre o número de vítimas civis que morreram em um bombardeio em Kunduz, no Afeganistão, em setembro.

 

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O ministro da Defesa alemão, Karl-Theodor Zu Guttenberg, afirmou que o Parlamento decidiu aceitar o pedido para deixar o cargo feito pelo chefe do Estado Maior, e do secretário de Estado da Defesa, Peter Wichert. O ministro confirmou ainda que a decisão foi tomada depois que o semanário Bild denunciou que os militares alemães ocultaram informações da Justiça e da opinião pública sobre o ataque que, segundo a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), pode ter matado 142 pessoas.

 

No dia 4 de setembro, aviões da Otan bombardearam dois caminhões-tanque que haviam sido capturados pelo Taleban no norte do Afeganistão. Inicialmente, a organização afirmou que acreditava haver somente militantes do Taleban entre os mortos. Mas, em seguida, admitiu que havia um grande número de vítimas civis. Sem poder avançar pela estrada, os militantes decidiram esvaziar os cargueiros e os moradores da região se aglomeraram para tentar recolher parte do combustível. As pessoas que estavam no local foram queimadas vivas no ataque. Capturar caminhões-tanque vem sendo uma estratégia popular dos insurgentes, já que as forças da Otan dependem desses carregamentos.

 

O jornal "Bild" revela um relatório militar segundo o qual a Defesa "tinha claros indícios" de que houve mortes entre civis "apenas horas depois do ataque" aéreo, ordenado por um militar alemão, mas, apesar disso, o então ministro Franz Josef Jung afirmou durante dias que o bombardeio só havia atingido insurgentes taleban. Segundo o jornal, esse relatório foi escondido pelo ministério também da Procuradoria Federal, encarregada de determinar se existem suficientes argumentos para abrir um sumário.

 

Jung - que atualmente ocupa a pasta do Trabalho e Assuntos Sociais no novo gabinete da chanceler alemã, Angela Merkel - disse, pelo contrário, que não foi descartada a possibilidade de que houvesse vítimas civis a partir de 6 de setembro, dois dias depois do bombardeio. Explicou que as primeiras informações recebidas de fontes afegãs, assim como da polícia, do governador regional e das autoridades provinciais, indicavam que as vítimas eram "taleban e seus aliados".

 

Diante do Parlamento, no entanto, o atual ministro da Defesa confirmou a existência do relatório do Exército alemão citado pelo Bild, do qual ele teve conhecimento pela primeira vez na quarta-feira, um mês após ter assumido a pasta da Defesa. Após afirmar que será preciso realizar uma "nova avaliação" do caso à luz das novas informações, Guttenberg comentou que na legislatura passada foram escondidos outros relatórios sobre a atuação alemã no Afeganistão, sobre os quais não deu detalhes.

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