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Protesto de promotor aumenta pressão sobre premiê da Turquia

Por ECE TOKSABAY E HUMEYRA PAMUK
Atualização:

Um promotor turco acusou nesta quinta-feira a polícia de obstruir seu trabalho em um caso de corrupção envolvendo altas autoridades, elevando o escrutínio público sobre o governo do primeiro-ministro Tayyip Erdogan, que mantém uma posição de desafio em meio à crise. Três ministros renunciaram depois que seus filhos foram citados entre dezenas de pessoas detidas em 17 de dezembro como parte de uma investigação sobre práticas de corrupção, que expôs profundas divisões institucionais na Turquia e deixou o primeiro-ministro possivelmente diante de sua maior crise em 11 anos de poder. Erdogan respondeu à investigação substituindo na quarta-feira metade de seu gabinete por pessoas leais a ele, ao mesmo tempo em que os investidores se assustavam e a moeda turca, a lira, caía ainda mais nesta quinta-feira, em sua maior baixa já registrada. O novo ministro do Interior, Efkan Ala, será encarregado da segurança interna da Turquia e é considerado especialmente próximo de Erdogan, que qualificou a investigação secreta de complô orquestrado do exterior e sem mérito legal, e reagiu demitindo ou realocando parte dos 70 agentes da polícia envolvidos na apuração do caso. Em acusações divulgadas por escrito pela mídia turca, o promotor Muammer Akkas disse que também foi removido do caso, que descreveu como prejudicado pela polícia, que se recusou a atender suas ordens de prender mais suspeitos. "Por meio da força policial, o Judiciário foi submetido a pressão aberta, e a execução das ordens do tribunal foi obstruída", afirmou Akkas. "Um crime foi cometido através da cadeia de comando... Os suspeitos puderam tomar medidas de precaução, fugir e adulterar provas." O comunicado não mencionou o nome de nenhum dos acusados. O governo e a polícia não responderam de imediato. O procurador-chefe da Turquia, Turhan Colakkadi, declarou que Akkas foi removido do caso por ter vazado informações para a mídia e não ter enviado no momento certo a seus superiores os dados atualizados sobre os desdobramentos. Tais decisões, reforçadas por ordem do governo no fim de semana, causaram furor entre os turcos, que veem em Erdogan um viés autoritário e realizaram grandes manifestações de protesto em meados de 2013. "Erdogan tem um Estado profundo, o partido AK (ao qual ele pertence) tem um Estado profundo, e Efkan Ala é um dos elementos desse Estado profundo", disse Kemal Kilicdaroglu, diretor do principal partido de oposição, o CHP, usando termos que na Turquia denotam uma estrutura de poder paralelo, nas sombras, que não é objeto de controle democrático nem alvo de averiguações. SEPARAÇÃO DE PODERES O Alto Conselho de Juízes e Promotores, um órgão turco que se encarrega de nomeações nos tribunais, independentemente do governo, acrescentou seu peso às críticas. A recente requisição de que os investigadores da polícia mantenham seus superiores informados equivale a "uma clara violação do princípio de separação de poderes, e da Constituição", afirmou o conselho em um comunicado. Em seus três mandatos à frente do governo, Erdogan, político de formação islamista, transformou a Turquia, reduzindo o poder dos militares secularistas e promovendo uma rápida expansão da economia. Mas sua resposta ao escândalo levou a União Europeia a pedir a proteção da independência do Judiciário turco. Além disso, abalou os mercados. A lira despencou para o valor recorde de 2,1282 contra o dólar às 13h40 (horário de Brasília) nesta quinta-feira enquanto o valor das ações caía e os juros sobre os títulos do governo se elevava. (Reportagem adicional de Orhan Coskun, Gulsen Solaker e Seda Sezer)

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