Suíços rejeitam campanha de extrema direita e aprovam naturalização

País votou sobre destino da 3a geração de imigrantes. Mas cartazes com burkas e jihadistas voltaram a alimentar o debate sobre a integração. 

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Por Jamil Chade e em Genebra
Atualização:

Os suíços rejeitaram a campanha do medo liderada por partidos de extrema-direita e aprovaram nas urnas um processo facilitado para dar a cidadania aos netos de estrangeiros nascidos no país. 

A ideia de acelerar a naturalização à terceira geração de imigrantes foi proposta pelo próprio governo. Mas, assim como em votações passadas, grupos de extrema direita usam imagens polêmicas em cartazes espalhados pelo país para tentar reverter a decisão. O governo estima que 25 mil jovens seriam beneficiados pelo novo sistema que, segundo as autoridades, não significará uma naturalização automática. 

Imigrantes irregulares e famílias que estejam sendo ajudadas por benefícios sociais estão impedidos de solicitar a cidadania Foto: EFE/EPA/BENJAMIN MANSER

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Os primeiros resultados das urnas apontaram para uma vitória do "sim" à ideia da naturalização que, em situação normal, pode exigir doze anos e mais de R$ 20 mil em custos ao candidato. Mas, a partir de agora, netos de imigrantes poderão ter parte desse processo facilitado.

Ainda assim, a iniciativa de naturalização de um neto de imigrante não tem nada de automática. Para que ela ocorra, a pessoa precisa ter menos de 25 anos, nascido na Suíça, escolarizado e com um visto válido. Imigrantes irregulares e famílias que estejam sendo ajudadas por benefícios sociais estão impedidos de solicitar a cidadania. 

Outro critério: os pais precisam ter vivido na Suíça por pelo menos uma década, com visto e escolaridade. Quanto aos avós, eles também precisam ter tido um visto de residência válido. Para completar, os jovens precisam mostrar “respeito à ordem jurídica e aos valores da constituição”, além de ser fluentes em uma das quatro línguas da suíça e pagar impostos. 

A aprovação é ainda uma derrota dos grupos de direita, como o UDC, que fez nas últimas semanas uma campanha contrária. Pelas cidades, foram colocados cartazes mostrando uma mulher com um véu integral ao lado de um apelo contra a naturalização dos estrangeiros.Num outro cartaz, ainda mais forte, um jihadista aparece com uma arma, sugerindo que a facilitação na naturalização daria maiores chances para que terroristas e extremistas se instalassem no país. 

O UDC explica que a iniciativa do jihadista foi apenas de um setor jovem do partido no cantão de Schwyz, enquanto a mulher com a burka foi uma campanha de um grupo de cidadãos. Esse grupo, porém, é liderado por um deputado do UDC e conta com algumas das principais personalidades do partido.

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A imagem polêmica repetia a mesma estratégia do UDC usada há sete anos quando, num outro debate sobre imigração, usou a imagem de ovelhas negras sendo chutadas para fora da Suíça por ovelhas brancas. O mesmo grupo identificou em outras votações os imigrantes como criminosos. 

Para o governo e imprensa pública, o campanha desta vez foi comparada às táticas de “fatos alternativos” de Donald Trump nos EUA. Um estudo encomendado pela Secretaria de Estado para Migrações e realizado pela Universidade de Genebra concluiu que 58% dos beneficiados pela proposta seriam netos de italianos, além de um grupo importante de espanhóis e portugueses, e não de muçulmanos. 

Para se defender, membros do partido explicam que o alerta é que, no futuro, o processo de naturalização facilitada não irá tocar europeus, mas sim muçulmanos. Os dados, mais uma vez, não confirmam a tendência. 

“Em uma ou duas gerações, quem serão essas pessoas beneficiadas?”, questionou o deputado do UDC, Jean-Luc Addor. “Serão africanos, sírios e afegãos”, alertou. Addor é o presidente do Comitê contra a Cidadania Facilitada, o mesmo que encomendou os cartazes. 

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