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100 dias de governo: Trump desafia desde imprensa e artistas até juízes e prefeitos

Apesar das ações daqueles considerados inimigos pelo mandatário, a ameaça real para ele vem de ‘seu próprio campo’, como dos senadores republicanos John McCain e Lindsey Graham

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Por Redação
Atualização:

WASHINGTON - Juízes federais, prefeitos de grandes cidades, atores do Saturday Night Live e milhares de anônimos mobilizados nas redes sociais... Desde janeiro, quando assumiu a presidência dos EUA, Donald Trump tem que lidar com forças sociais heterogêneas que desafiam a realização de algumas de suas promessas de campanha.

A grande Marcha das Mulheres, que reuniu milhões de pessoas nos EUA no dia 21 de janeiro, um dia após a posse do magnata republicano, foi o ponto de partida do confronto. O primeiro cabo de guerra ocorreu seis dias depois, com a publicação do decreto presidencial que suspendia a entrada no país de pessoas oriundas de sete países de maioria muçulmana, incluindo aqueles que tinham visto ou documentos válidos.

Segundo o jornalThe Wall Street Journal, o índice de aprovação que Trump tem 100 dias após a posse é o mais baixo se comparado aos últimos 11 presidentes em pesquisas realizadas em datas semelhantes Foto: JIM WATSON / AFP

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No fim de semana seguinte, centenas de viajantes se viram bloqueados nos aeroportos de todo o mundo, o que provocou a mobilização de uma série de advogados e da poderosa organização de defesa dos direitos civis American Civil Liberties Union (ACLU), questionando a legalidade do decreto.

Um juiz federal de Seattle, James Robart, bloqueou poucos dias depois a aplicação do decreto, marcando a primeira vitória para o movimento incentivado pelo Partido Democrata. Com isso, no dia 15 de março, a administração de Trump apresentou uma nova versão do decreto, mas um juiz federal do Havaí, Derrick Watson, também o bloqueou, vendo nele "evidências significativas e irrefutáveis de animosidade religiosa".

Esta batalha judicial foi acompanhada de manifestações quase diárias de apoio aos imigrantes, em fevereiro e março. No entanto, a disputa sobre a questão da imigração está longe de terminar.

Quando ainda era candidato à Casa Branca, Trump prometeu expulsar milhões de clandestinos do país. Pouco depois da vitória, sua equipe endureceu as recomendações aos agentes federais encarregados de controlar os imigrantes ilegais, começando por aqueles com antecedentes criminais.

Televisão. Os prefeitos democratas de Nova York, Bill de Blasio; Los Angeles, Eric Garcetti; e Chicago, Rahm Emanuel - cidades que se definem como "santuários" para os imigrantes -, lideram uma iniciativa sobre a questão "como nunca houve antes", explica Sam Abrams, professor no Sarah Lawrence College.

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Apoiados por suas polícias municipais, eles se comprometeram a proteger os estrangeiros que não cometeram crimes violentos, enquanto os primeiros casos de detenção de clandestinos semeiam o pânico entre os imigrantes ilegais.

Outras críticas a Trump chegam pela televisão, especialmente nos programas noturnos, como Saturday Night Live, da NBC. Suas caricaturas de Trump e de seu porta-voz, Sean Spicer, cujas gafes já viraram lendas, alimentam as manchetes das edições dos jornais americanos de domingo.

"É difícil avaliar a sua importância, mas quando tomam alguém como alvo torna-se rapidamente um clássico", diz Abrams, recordando o efeito desastroso que teve sobre a candidatura da conservadora Sarah Palin à vice-presidência nas eleições de 2008.

De forma geral, o programa, que havia apostado quase inteiramente a favor da candidata democrata derrotada Hillary Clinton, conta com personalidades prontas para atacar Trump, desde Meryl Streep a Michael Moore, passando por Bruce Springsteen, Snoop Dogg e Robert de Niro.

Anônimos. Esse cenário de "intensa mobilização", aponta Abrams, é completado pelos milhares de anônimos que se expressam nas redes sociais, como os seguidores do movimento "Indivisible", que invadem as reuniões públicas de legisladores para exortá-los a resistir às medidas mais controvertidas do governo.

De qualquer forma, todas essas vozes heterogêneas "eram amplamente previsíveis" e não modificam a paisagem política americana, "muito polarizada há anos", diz Robert Shapiro, professor de ciência política na Universidade de Columbia.

A ameaça real para Trump vem de "seu próprio campo", especialmente de senadores republicanos, como John McCain e Lindsey Graham, cujas críticas ao presidente no caso da interferência russa na eleição presidencial foram qualificadas como "muito importantes" por Shapiro.

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Outro sinal da oposição interna foi o fracasso, no fim de março, da reforma da saúde que Trump pretendia adotar para substituir o Obamacare, a qual não foi aprovada em razão da deserção de vários legisladores republicanos. Esta era uma das principais promessas de campanha do magnata, e seu fracasso pode fazê-lo perder muitos eleitores. / AFP

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