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A aliança EUA-China

Suas negociações com o presidente Xi Jinping apontam para a construção de um acordo amplo, no qual o comércio é colocado sobre a mesa com o tema da defesa

colunista convidado
Foto do author Lourival Sant'Anna
Por Lourival Sant'Anna
Atualização:

Durante a campanha presidencial do ano passado, e mesmo depois de eleito, a hostilidade de Donald Trump para com a China fez soar o alarme de que o mundo poderia sucumbir a uma guerra comercial – se não a uma guerra no sentido literal. Não foi o rumo tomado pelo presidente americano. Suas negociações com o presidente Xi Jinping apontam para a construção de um acordo amplo, no qual o comércio é colocado sobre a mesa com o tema da defesa.

Donald Trump e Xi Jinping se cumprimentam após reunião bilateral na Flórida Foto: REUTERS/Carlos Barria

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Depois de ameaçar os produtos chineses com tarifas de importação de 45%, Trump conversou pelo telefone com a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, com isso abandonando a base de qualquer negociação com Pequim: o princípio de uma única China. O presidente americano acrescentou uma queixa: “A China não está nos ajudando com a Coreia do Norte”. E ainda acusou injustamente os chineses de manipulação cambial (base para retaliações comerciais), quando na verdade o país queimou US$ 1 trilhão dos US$ 4 trilhões de suas reservas para evitar a queda de sua moeda.

Então começaram as negociações. No primeiro telefonema entre ambos, em 9 de fevereiro, Trump se comprometeu com a política de uma única China, que implica o não reconhecimento de Taiwan. Para dar perspectiva à estratégia: a conversa se deu na véspera da reunião de Trump com o premiê japonês, Shinzo Abe, na qual ele afirmou seu compromisso com o pacto de defesa mútua, destinado justamente a proteger o Japão de uma ameaça chinesa, que ele havia antes também colocado em dúvida.

A China retribuiu suspendendo as importações de carvão da Coreia do Norte, a principal fonte de moeda forte do empobrecido e isolado país. A conversa e os gestos – assim como frenética negociação entre os diplomatas, para assegurar que Xi não sofreria um constrangimento – abriram caminho para a cúpula dos dias 6 e 7 no balneário de Trump na Flórida. Enquanto saboreava “a mais bonita fatia de torta de chocolate”, na sobremesa do jantar daquela quinta-feira, Trump comunicou a Xi que havia mandado bombardear uma base na Síria. Ao incentivo da cooperação era acrescentada uma ameaça dissuasiva. Trump não será lembrado por sua sutileza.

Naquela reunião, Trump e Xi encontraram um objetivo comum para a Península Coreana: sua desnuclearização. Como é só a Coreia do Norte que possui armas nucleares, a espada foi colocada sobre o regime de Pyongyang: as duas potências não tolerarão mais um teste nuclear. A linguagem, naturalmente, é diferente: enquanto Trump despachou uma armada com porta-aviões e submarinos para o Mar do Japão, a China insistiu em uma solução política para o conflito. Trump tuitou depois do encontro que, se a China ajudasse os EUA com a Coreia do Norte, obteria um acordo comercial mais vantajoso; se não, ele resolveria o problema ao seu modo. E assinou: USA.

Aproximação. Os gestos mútuos intensificaram-se esta semana. Na segunda-feira, representantes dos governos chinês e sul-coreano se comprometeram em Seul a impor sanções econômicas contra a Coreia do Norte se ela realizasse novo teste nuclear ou com mísseis. No dia seguinte, o jornal Global Times, que em geral expressa as visões do regime chinês, defendeu a suspensão da venda de petróleo para a Coreia do Norte em caso de novo teste nuclear. 

Na quarta-feira, Trump retirou a acusação de manipulação cambial contra a China (que ele havia reiterado apenas uma semana antes, em entrevista ao Financial Times). No mesmo dia, a China se absteve na votação de resolução do Conselho de Segurança da ONU condenando a Síria pelo ataque do dia 4 com gás sarin. Em seis votações anteriores, a China havia se juntado à Rússia no veto a resoluções contra a Síria. Estava selado o realinhamento. EUA e China continuam tendo objetivos diferentes quanto a outras questões, mas agora está claro que Trump não deseja um conflito com Pequim. 

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