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A maior onda jihadista na história da Europa

'Quatro tendências apontam para um futuro com mais radicalização e terrorismo do que hoje', diz Thomas Hegghammer, da Universidade de Oslo

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Por Helio Gurovitz
Atualização:

Incluindo os 12 mortos em Berlim, ataques jihadistas mataram 285 pessoas na Europa desde 2014, mais que em todos os anos anteriores somados (267). Só em 2015 e 2016, houve 15 atentados, quase o triplo da média nos anos anteriores. Nos próximos anos, a situação só vai piorar. “As coisas podem até acalmar no curto prazo, mas quatro tendências apontam para um futuro com mais radicalização e terrorismo do que hoje”, diz Thomas Hegghammer, da Universidade de Oslo, em artigo na Perspectives on Terrorism. São elas: 1) o desemprego crescente entre jovens muçulmanos; 2) jihadistas experientes, condenados nos últimos anos, sairão da cadeia ou voltarão de temporadas de treinamento no exterior; 3) os conflitos no Oriente Médio radicalizarão novas áreas conflagradas; 4) a tecnologia digital continuará a ser um meio eficaz e barato para aliciar terroristas. Outro estudo, assinado por 20 especialistas reunidos pelo United States Institute of Peace (Usip), acrescenta três fatores distintos: 1) a fragilidade de Estados do Oriente Médio para combater a ameaça; 2) as intervenções militares desastradas do Ocidente exacerbam a ideologia radical; 3) a multiplicação dos refugiados oferece às redes terroristas um caminho fácil para infiltrar jihadistas.

Cidades alemãs reforçaram segurança após ataque em Berlim Foto: AP Photo/Martin Meissner

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Tunísia, terra do terror tipo exportação

Entre 2011 e 2016, mais de 5 mil muçulmanos europeus foram combater na Síria, o quíntuplo dos que foram a todos os demais destinos em anos anteriores. Qual o país que mais envia recrutas a movimentos jihadistas? Tunísia, terra de Anis Amri, cujas impressões digitais e documentos foram achados no caminhão que avançou sobre a multidão em Berlim. Para Síria e Iraque, foram 6 mil tunisianos. Para a Líbia, 1 mil. Mais 9 mil foram impedidos de sair do país.

Por que ele não foi expulso da Alemanha?

Amri fugiu de uma condenação na Tunísia, ficou 4 anos preso na Itália e, só neste ano, foi detido três vezes, até ser morto depois de atirar num policial em Milão. Ao chegar à Alemanha, em junho, foi posto numa lista de vigilância. Estava sob investigação por planejar um “grave ato de violência”. Seu pedido de asilo foi rejeitado. Foi flagrado pelos americanos ao contactar o Estado Islâmico (EI) e ao pesquisar explosivos na internet. O que mais será preciso para prender e expulsar um refugiado?

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O paradoxo do jihadismo na democracia

Foi na Tunísia que a Primavera Árabe começou. Estopim: em 2011, um vendedor de rua de Sidi Bouzid se imolou após recusar US$ 7 de propina a uma policial. A revolta levou ao poder o partido fundamentalista Ennahda, que abriu mão do governo em nome do caráter laico do Estado. Tida como exemplo de democracia em país islâmico, a Tunísia apostou na educação, e hoje metade dos que entram no mercado de trabalho tem nível superior. Só que um terço dos formados não acha emprego, e o recuo do Ennahda abriu espaço aos mais radicais – um ambiente ideal para o recrutamento de jihadistas.

O Estado Islâmico encolhe…

Apesar da alta do terrorismo na Europa, o EI está em declínio no Oriente Médio. De acordo com o Pentágono, o califado já perdeu, desde maio de 2015, 45 mil combatentes e 43% do território – 57% no Iraque e 27% na Síria. As perdas incluem Ramadi, Falluja, Tikrit e Kobani. A próxima cidade a cair será Mossul.

… enquanto a Al-Qaeda ainda resiste

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O encolhimento do EI é atribuído à sua estratégia impiedosa e brutal. “Não é um modelo sustentável”, diz o estudo do Usip. “Ganhos prematuros levaram a perdas rápidas.” A Al-Qaeda, rival do EI na disputa pelos radicais, adotou uma estratégia gradual, de alianças em vez de enfrentamento. Hoje, tem apelo maior para a população muçulmana e, diz o estudo, deverá crescer, enquanto o Estado Islâmico encolherá.

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