'A Venezuela não acrescentou nada ao Mercosul'

Para Macri, governo de Maduro radicaliza suas posições em vez de provocar uma abertura ao diálogo

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Por Rodrigo Cavalheiro , CORRESPONDENTE e BUENOS AIRES
Atualização:

O presidente argentino, Mauricio Macri, recebeu correspondentes do Estado de S. Paulo, da Folha de S. Paulo e de O Globo em sua residência oficial na manhã desta quarta-feira, 28. Durante 23 minutos, ele deu a seguinte entrevista, motivada pela visita do presidente Michel Temer a Buenos Aires na segunda-feira, 3. A seguir,trechos da conversa:

O presidente da Argentina, Mauricio Macri, discursa na ONU Foto: AP Photo/Seth Wenig

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 Em relação ao Mercosul, o bloco poderia pedir à Venezuela que realize o referendo revogatório ainda este ano? O chanceler José Serra mencionou uma proposta argentina neste sentido. Já me expressei publicamente, o povo venezuelano tem direito a expressar-se, sobretudo diante da violação sistemática dos direitos humanos cometida pelo governo de Nicolás Maduro. Ainda não o vejo como parte da agenda no Mercosul, vamos ver no dia 3 de outubro quando falemos com o presidente Temer sobre o assunto.

 Falta de apoio do Uruguai? Não, ainda não se colocou uma posição assim como Mercosul. A Argentina a adotou como país, individualmente.

* Mas a Argentina tem uma proposta? Não fizemos nenhuma proposta nesse sentido.

* E na segunda-feira? Veremos, vamos falar em profundidade. Acho que tudo o que possa ser feito para ajudar os irmãos venezuelanos deve ser feito, estou aberto a todas as alternativas possíveis que permitam que haja referendo e assim ver se finalmente são realizadas eleições antecipadas na Venezuela. 

* Viu Maduro na Colômbia? Estivemos no mesmo espaço físico, mas não o vi.

* Não trocaram palavras? Não

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* O presidente de Peru, Pedro Pablo Kuczynski, disse que há que pressionar a Venezuela porque é muito perigoso o que pode acontecer se a Venezuela não resolver a crise política. O sr. concorda que há que aumentar a pressão? Como se faria isso? Ao máximo possível. De toda maneira que for possível. Não é fácil a situação. Estou muito preocupado porque tomei posições claras em relação ao tema, mas o único que se vê de longe é que cada dia os resultados estão piores. Sinto que o governo de Maduro radicaliza suas posições em vez de gerar uma abertura ao diálogo. Não tenho claro como vai evoluir o assunto.

Acredita que até 1º de dezembro a Venezuela poderia cumprir as normas do Mercosul ou inclusive seria mais conveniente ao bloco que as coisas fiquem como estão? Na minha opinião, o ingresso da Venezuela não acrescentou nada positivo ao Mercosul. Assim que o Mercosul seguiria adiante de uma forma mais fácil sem a Venezuela de hoje que com a Venezuela de hoje.

* Se refere às condições econômicas ou mais às questões democráticas? Primeiro, ao não respeito às normas democráticas e segundo ao sistema econômico, que está colapsado na Venezuela. 

*Estaria então mais inclinado para que Venezuela baixasse de status de membro associado, como é Bolívia e Chile. A Venezuela não cumpriu os requisitos que tinha que cumprir para ser um membro ativo do Mercosul. Se em 1º de dezembro não os cumpre, deixa de pertencer ao Mercosul.

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Com relação à Venezuela e a outros assuntos de política externa, eventualmente a chanceler Susana Malcorra baixa um pouco o tom de suas declarações. Ocorreu com com Malvinas, Venezuela, Mercosul. Há um ruído entre os dois? Nenhum. Ela é a chanceler e eu sou o presidente. Me dou o direito de me expressar com claridade absoluta sobre o que penso e a chanceler faz a tarefa diplomática.O que sentimos os argentinos é que temos que ser solidários com os venezuelanos. Na época da ditadura na Argentina, um dos países mais abertos a receber exilados argentinos foi a Venezuela. Devemos aos venezuelanos uma defesa irrestrita de seus direitos, que hoje são violados por um governo que atropelou as instituições democráticas.

* Perguntas feitas pelos correspondentes de Folha de S. Paulo e O Globo