PUBLICIDADE

Abstenção do sul pode ajudar Renzi em votação 

Região da Itália está mais propensa a rejeitar reforma em referendo amanhã

Atualização:

ROMA - O primeiro-ministro da Itália, Matteo Renzi, diz publicamente torcer por uma votação em massa no referendo de amanhã sobre a reforma constitucional proposta por seu governo. Internamente, no entanto, o líder espera que parte da Itália, o empobrecido sul, decida ficar em casa. 

Renzi disse que renunciaria se os italianos rejeitassem seu plano que prevê reduzir os poderes legislativos do Senado. Com a promessa, ele transformou uma discussão legal de alto nível em um voto pessoal de confiança sobre seu mandato.

Trecho da Constituição da Itália em muro em Roma Foto: AP Photo/Domenico Stinellis

PUBLICIDADE

Antes de um bloqueio ter sido imposto às pesquisas de opinião, há duas semanas, todas as sondagens mostravam o “não” muito à frente, causando arrepios e temores de instabilidade ao cauteloso mercado financeiro da terceira maior economia da zona do euro. 

As pesquisas indicavam um forte sentimento contrário à reforma concentrado nas Províncias do sul da Itália, casa de mais de um terço do eleitorado. A boa notícia para Renzi é que a região tem os mais baixos números de participação nas eleições – um fator que pode ajudar o primeiro-ministro. 

A estagnação econômica e a ampla ação do crime organizado no sul italiano têm contribuído para uma erosão constante da fé nos políticos por parte da população. “A abstenção dos eleitores favorece o ‘sim’. O mais inclinados a votar pelo ‘não’ são os menos propensos a participar”, disse o presidente do instituto de pesquisa Tecne, Carlo Buttaroni. 

Na última vez em que a Itália realizou eleições, para o Parlamento Europeu em 2014, a participação das regiões ao sul de Roma foi de 51,7%, comparada com 66% do norte, incluindo a capital financeira, Milão. 

O ressentimento é mais profundo na Sicília e na Sardenha, cujas economias têm sido atingidas duramente por anos de recessão. Apenas 42,7% dos moradores dessas regiões depositaram seus votos em 2014.

Publicidade

A participação é tradicionalmente muito mais baixa quando se trata de referendos. Pelo menos 50% do eleitorado tem de participar para que a votação seja válida. Uma tática para demonstrar descontentamento é simplesmente ficar em casa. 

Precedente. Uma grande abstenção ocorreu na Itália no último referendo, em junho, sobre direitos de perfuração de petróleo, quando a participação foi de apenas 31,2%, garantindo a derrota da medida. No entanto, sob a lei italiana, o quórum seria suficiente para decidir sobre a votação de amanhã. 

“Nós nos preocupamos com o fato de que as pessoas que se opõem a essa reforma simplesmente não vão votar, pensando que é apenas isso o que têm de fazer”, disse uma fonte do partido Liga Norte, que faz forte campanha contra Renzi. O Partido Democrático, de Renzi, na Sicília, tenta mobilizar seus eleitores e explicar os benefícios de seu plano, explicou o secretário regional do partido, Fausto Raciti. O partido também tenta fazer frente ao Movimento 5 Estrelas (M5S), que se diz contra o sistema e tem canalizado os votos de protesto contra as dificuldades do país, agravadas por anos de corrupção. Alguns políticos famosos do sul têm alimentado as ideias do M5S. 

Matteo Renzi, primeiro-ministro da Itália, perdeu o referendo Constitucional e renunciou ao cargo Foto: Herwig Prammer /AP

Vincenzo De Luca, porta-voz do PD em Campânia, a terceira maior região da Itália, que abrange a cidade de Nápoles, teve divulgado um áudio no qual é possível ouvi-lo em uma reunião recomendando tráfico de influência como uma maneira de atrair eleitores do “sim”. 

“Ofereça a eles um prato de peixe, ou seja lá o que for”, disse De Luca na gravação, divulgada pelo jornal Il Fatto Quotidiano. O político veterano argumenta ainda que a região tem recebido “rios de dinheiro” de Renzi por meio de verbas. 

De Luca defendeu-se dizendo que não fez nada de errado. Mas, para Federico Benini, chefe da agência de pesquisa Winpoll, as palavras de De Luca deverão reverberar. “É vital para o sul receber mais dinheiro para retomar sua economia, e ele brincou com isso e com o mais profundo instinto das pessoas.” / REUTERS

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.