Artigo: Abstenção é ‘recado de despedida’

Decisão dos EUA reflete frustração do presidente Obama com aumento no número de assentamentos

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Por Carol Morello & Ruth Englash
Atualização:

O Conselho de Segurança (CS) da ONU aprovou na sexta-feira uma resolução exigindo que Israel pare de construir assentamentos em território ocupado. A aprovação, unânime, ocorreu com os Estados Unidos se abstendo de votar ao invés de vetar.

A resolução declara que os assentamentos construídos em terras ocupadas por Israel desde a guerra de 1967 não têm “validade legal”. Ela afirma que as construções ameaçam a viabilidade da solução de dois Estados e pede a israelenses e palestinos que voltem às negociações visando a duas nações independentes.

Conselho de Segurança da ONU aprova resolução proibindo ampliação de colônias em territórios palestinos Foto: Manuel Elias / AFP

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A abstenção dos EUA foi uma rara repreensão a Israel e refletiu a crescente frustração do governo Barack Obama com o aumento no número de assentamentos, o que ele considera um obstáculo para a paz. Com seu mandato chegando ao fim, a decisão de não vetar foi uma declaração simbólica desse descontentamento e um sinal de que chegou a hora de a solução de dois Estados predominar.

A decisão do governo foi também um desafio à sugestão de Donald Trump de que os EUA vetassem a resolução. O futuro governo do magnata vem indicando que haverá uma mudança na política americana para Israel. Uma hora depois da votação de sexta-feira, o presidente eleito tuitou: “Quanto à ONU, as coisas serão diferentes a partir de 20 de janeiro”.

Trump apoia a mudança da embaixada americana de Tel-Aviv para Jerusalém. E indicou para próximo embaixador dos Estados Unidos em Israel o advogado especialista em falências David Friedman, que defende que os israelenses deveriam anexar a Cisjordânia e fazer mais assentamentos. Não ficou claro qual impacto a resolução terá, se é que terá algum. Estudiosos de direito diferem sobre seu alcance prático. O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, já declarou que seu país não obedecerá à determinação.

Cerca de 400 mil judeus vivem em 150 assentamentos na Cisjordânia, em terras que os palestinos querem para um futuro Estado. Além disso, 200 mil israelenses vivem em Jerusalém Oriental.

A maioria dos países considera os assentamentos ilegais. Diplomatas americanos os caracterizam como ilegítimos e dizem que aumentam as tensões entre israelenses e palestinos. Por duas vezes, o governo Obama tentou tirar do impasse as negociações de paz. Na investida mais recente, nove meses de intensos esforços diplomáticos do secretário de Estado, John Kerry, ruíram em 2014.

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Netanyahu afirmou que estava satisfeito com a entrada de Trump no lugar de Obama, cujo governo, segundo ele, “conspirou” para um ataque diplomático a Israel.

Diplomatas palestinos consideraram a resolução uma chance de salvar a possibilidade de dois Estados e congratularam-se com uma decisão que reflete seu ponto de vista. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

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