Ação russa recria cenário de tensão da Guerra Fria

Ensaios para retomada de patrulhas frequentes começaram em 2008 e incluíram pousos na Venezuela e simulações de combate

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Em uniforme de piloto, Vladimir Putin brinca com modelo de Tupolev Foto: Alex Panov/AP

Tom e Jerry, no jogo do gato e o rato, estão de volta - e, como no período da Guerra Fria, fazem o mundo tremer. Tom é o codinome dos imensos bombardeiros, antes da União Soviética, agora da Rússia. Jerry é a força dos caças interceptadores - dos Estados Unidos, principalmente, todavia, não apenas esses.

O confronto é de alto risco. Funciona assim: os aviões estratégicos Tu-160, Blackjack e Tu-95 Bear, ambos com alcance acima dos 12,5 mil km, decolam de bases instaladas, por exemplo, na região de Novosibirsk, rumo ao limite do território americano.

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A rede de radares, sensores remotos e satélites imediatamente dispara sinais de alerta com o bombardeiro ainda se deslocando dentro do espaço aéreo internacional. Os esquadrões americanos de defesa aérea - quase todos equipados com o F-15 Eagle ou o F-22 Raptor - passam a operar em regime de alerta. Pilotos a bordo, aeronaves armadas e prontas para decolar em menos de cinco minutos.

A decolagem de combate indica que o limite de segurança, cerca de 500 km antes da linha territorial, está sob risco. Voando, geralmente duas a duas, as aeronaves da Rússia e dos EUA, aproximam-se, mas só até o ponto em que possam trocar golpes fotográficos: colhem imagens uns dos outros e, eventualmente, mandam mensagens irônicas pelo sistema de rádio.

Esse ritual militar é, a rigor, o mesmo de há 50 anos - com o acréscimo forte da tecnologia. Os Tupolev levam as versões avançadas de armas como os mísseis Raduga, capazes de atingir alvos a até 1,1 km. Uma das configurações, a Kh-15, leva ogiva nuclear. No total, a capacidade de ataque supera as 40 toneladas. Os interceptadores de última geração, americanos e europeus, empregam mísseis que procuram seus objetivos a 160 km de distância.

O Tu-160 é um imenso supersônico em operação há 27 anos. A frota original de 35 unidades está reduzida a apenas 16. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) estima que 11 deles passaram por um processo de revitalização. O segundo vetor, o Tu-95, é um turboélice em uso há 58 anos. Modernizado, manteve a capacidade de lançar 15 toneladas de bombas e mísseis - mas é usado com frequência para coleta e processamento de dados de inteligência. Há 55 deles em uso.

Caribe. Com peso reduzido, os dois modelos cobrem 15 mil km em voo contínuo. Para projetar sua presença intercontinental, a aviação russa precisa manter infraestrutura de apoio no Caribe ou no arco norte da América do Sul. Os ensaios começaram em setembro de 2008, quando dois Tu-160 pousaram na Venezuela. Dois anos depois, dois deles foram mantidos no ar por 23 horas simulando um combate. Em novembro de 2013, invadiram duas vezes o espaço aéreo da Colômbia. Na segunda violação, foram interceptados e escoltados até o espaço internacional por caças e seguiram voo para a Nicarágua.

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