Afeganistão é o país mais perigoso para mulheres, revela estudo

RD Congo, classificado como 'capital mundial do estupro', Paquistão, Índia e Somália estão em seguida

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Por Gabriel Toueg
Atualização:

Um estudo realizado pela fundação Thomson Reuters revelou que o Afeganistão é o país mais perigoso para mulheres. A violência, os péssimos serviços de saúde e a pobreza levaram o país para o topo da lista. Em seguida vem a República Democrática do Congo (RDC), na África, por conta do elevado número de estupros, usados como arma de guerra.

 

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A fundação lançou nesta quarta-feira a seção feminina do TrustLaw.org, site que divulga informações legais e oferece amparo legal gratuito. Na lista do TrustLaw Women aparecem ainda a Índia, mencionada pelo tráfico humano e escravidão sexual, o Paquistão, por ataques a ácido contra mulheres e a Somália, que apresenta diversos riscos às habitantes do sexo feminino.

 

As informações foram reveladas nesta quarta-feira, 15, pelo jornal britânico The Guardian, que publicou números relacionados à violência contra as mulheres nesses países. Na Somália, por exemplo, segundo o diário, 95% das meninas sofrem mutilações genitais, a maior parte quando têm entre 4 e 11 anos.

 

Na RDC, que o Guardian chama de "capital mundial do estupro" citando a classificação da ONU, 1.152 mulheres são violadas diariamente e 57% das grávidas sofrem de anemia. Outro dado assustador vem da Índia. No país, 44,5% das meninas se casam antes dos 18 anos.

 

Lá, 50 milhões de mulheres foram consideradas "desaparecidas" nos últimos 100 anos por conta do infanticídio (morte de crianças) e do feticídio (aborto provocado) feminino. O Paquistão, que paga salários 82% menores para mulheres, tem mais de mil casos anuais de "crimes de honra".

 

Uma em onze

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O Afeganistão aparece na pesquisa não apenas como o país mais perigoso para as mulheres em geral, mas também como o pior em três de seis categorias avaliadas (leia mais abaixo). O país tirou notas ruins em saúde, violência não sexual e falta de acesso a recursos econômicos.

 

O país, mergulhado em um conflito violento pelo menos desde o início das operações em busca do líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, morto em 1º de maio, tem altas taxas de mortalidade no momento do parto, acesso limitado a médicos e, segundo a Reuters, uma carência quase total de direitos econômicos. Mulheres afegãs têm uma chance de 1 em 11 de morrer no momento do parto, segundo a Unicef.

 

"O conflito contínuo, os ataques aéreos da Otan e as práticas culturais combinadas fazem do Afeganistão um lugar muito perigoso para as mulheres", disse à Reuters Clementina Cantoni, colaboradora no Paquistão do Echo, departamento de ajuda humanitária da Comissão Europeia.

 

Segundo ela, as mulheres que tentam "'levantar a voz' ou assumir cargos públicos para desafiar estereótipos sexuais arraigados" são intimidadas ou assassinadas no país. Clementina cita, entre as proibições impostas às mulheres afegãs, o trabalho na polícia ou como apresentadoras de TV.

 

Seis riscos

 

Segundo a Reuters, o TrustLaw pediu a 213 especialistas em gêneros de cinco continentes para fazer um índice de países perigosos em virtude das percepções de perigos e de seis riscos: ameaças para a saúde, violência sexual e não sexual, fatores culturais ou religiosos, falta acesso a recursos e tráfico humano.

 

Alguns dos especialistas consultados mencionaram ainda questões como a discriminação. "Acho que devemos olhar para todos os perigos que mulheres e meninas enfrentam", disse à agência Elisabeth Roesch. Ela trabalha com a violência de gênero para o International Rescue Committee (Comitê Internacional de Resgate), em Washington.

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Para Elisabeth, se uma mulher não tem acesso aos serviços de saúde "porque sua saúde não é uma prioridade, essa pode ser uma situação perigosa, também".

 

'Capital mundial do estupro'

 

A República Democrática do Congo (RDC), que ainda se recupera da guerra civil de 1998 a 2003 e da morte de 5,4 milhões de pessoas, tem 400 mil mulheres estupradas por ano. O Guardian cita outra cifra. Segundo o jornal, as mulheres congolesas não são permitidas a assinar documentos legais sem autorização do marido.

 

Segundo Clementina Cantoni, as estatísticas da RDC são "muito reveladoras". Ela disse que no país, em guerra contínua, o estupro é usado como arma. Há ainda "recrutamento de mulheres como soldadas que também são usadas como escravas sexuais", relata.

 

A situação se agrava, de acordo com a especialista, porque o governo "é corrupto", os direitos das mulheres são "mínimos" e "na prática, isso significa que há pouca ou nenhuma forma de recorrer à Justiça".

 

Ranking

 

As práticas culturais, tribais e religiosas do Paquistão colocam o país em terceiro lugar no ranking divulgado pelo jornal britânico. Segundo a Reuters, entre essas práticas estão ataques com ácido, casamentos forçados - muitas vezes quando as meninas ainda são muito novas - e agressões como apedrejamento e outros abusos físicos.

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Em seguida está a Índia, com altos índices de feticídio, infanticídio e tráfico de pessoas. Segundo a agência de notícias, o secretário de Interior do país em 2009 estimou na época que 100 milhões de pessoas, na maioria mulheres e meninas, foram envolvidas em tráfico durante aquele ano. 

 

Para o Guardian, a presença da Índia na lista "foi inesperada", sendo um "país que se desenvolve rapidamente" e caminha para "se tornar uma superpotência".

 

No quinto lugar a Somália aparece com uma lista de perigos, como altas taxas de mortalidade materna, estupros, mutilação genital feminina, acesso limitado à educação, a serviços de saúde e a recursos econômicos.

 

O Guardian revela que apenas 7,5% dos assentos no Parlamento são ocupados por mulheres, e que espantosos 9% dão à luz em hospitais ou clínicas.

 

Também de acordo com o jornal, a ministra da Mulher do país, Maryan Qasim, disse sobre a pesquisa que pensava que a Somália ficaria "em primeiro na lista, não em quinto".