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‘Ainda vejo o caminhão nos atacando’, diz marido de brasileira morta no atentado em Nice

Um ano após o ataque terrorista, suíço Sylvain Solioz conta as dificuldades de lidar com o luto e ressalta que o trabalho das autoridades para combater o terrorismo não é suficiente

Por Jéssica Otoboni
Atualização:

Há um ano, moradores e turistas que passeavam à noite pela avenida Promenade des Anglais, na cidade francesa de Nice, foram surpreendidos pelo caminhão dirigido pelo tunisiano Mohamed Lahouaiej Bouhlel. Com ajuda de cúmplices, o terrorista lançou o veículo contra os pedestres que participavam das comemorações do Dia da Bastilha, depois desceu e abriu fogo contra a multidão, deixando 86 mortos e 450 feridos.

O agressor trocou tiros com policiais e morreu, mas as feridas que ele causou na vida das pessoas que perderam parentes próximos naquele dia jamais cicatrizaram.

Sylvain Soliozera casado com a brasileira Elizabeth Cristina de Assis Ribeiro, que morreu no atentado em Nice Foto: Sylvain Solioz

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Sylvain Solioz, suíço de 35 anos, era casado com a brasileira Elizabeth Cristina de Assis Ribeiro, de 30 anos, uma das vítimas do ataque. Hoje, o assistente de carpinteiro mora na cidade suíça de Yverdon-les-Bains, cuida das filhas Djulia, de 5 anos, e Kimea, de 1, e tenta lidar diariamente com a tristeza.

“Sinto-me um milagre e todos os dias são de luto”, conta Solioz ao Estado. Além de Elizabeth, ele também perdeu a filha Kayla, de 6 anos. No dia 14 de julho de 2016, a família curtia as férias em Nice quando foram atingidos pelo caminhão. O suíço conseguiu salvar a si mesmo e apenas duas filhas.

Questionado sobre a criação delas sem a mãe, Solioz responde: “É muito duro me forçar a batalhar pelas duas filhas que consegui salvar”.

Traumas

Com relação aos traumas causados pelo trágico episódio, o suíço relata que, apesar do tempo, o choque permanece. “Tenho pesadelos. Ainda vejo o caminhão nos atacando”, descreve. Ele e as duas filhas sobreviventes chegaram a ficar internados no hospital da Fundação Lenval, em Nice. Autoridades suíças disseram na época que eles estavam “em estado de choque”.

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Segundo informações da agência de notícias France-Presse, ao menos 3 mil pessoas receberam acompanhamento psicológico na cidade desde o ataque. Dentre elas, especialistas afirmam que há mais de 1 mil crianças. Mesmo os que não chegaram a se ferir, lidam com o abalo causado pelo medo ou por terem visto corpos mutilados.

O atentado em Nice foi o último de grandes proporções registrado na França, seguido por alguns ataques menos expressivos que deixaram um número de mortos consideravelmente menor e alguns feridos. O alvo do grupo jihadista Estado Islâmico nos últimos meses parece ter mudado para o Reino Unido, que já registrou ações próximas ao Parlamento britânico, em um show de música em Manchester e na saída de uma mesquita em Londres.

No início de julho, o Parlamento da França prorrogou o estado de emergência por mais seis meses, status que será mantido até o dia 1.º de novembro. A medida está em vigor desde os atentados do dia 13 de novembro de 2015, nos quais 130 pessoas morreram e mais de 300 ficaram feridas.

Ainda assim, Solioz afirma que o trabalho das autoridades para combater o terrorismo não é suficiente. “Eles não fazem muita coisa e são muito tolerantes. No dia 14 de julho do ano passado em Nice, por exemplo, não havia muita segurança.”

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Mesmo diante do terror presenciado pelos europeus, Solioz afirma que “está bem” em termos de segurança na Suíça, mas mudar para o Brasil estava nos planos antes da morte de Elizabeth. A ideia da família ainda é morar no Rio de Janeiro, “se o dinheiro der”. O suíço conta que já esteve três vezes no Brasil, em visita à região de Olaria - onde nasceu a brasileira - e do Complexo do Alemão. 

Auxílio

Alguns dias após o atentado, autoridades suíças disseram que iriam apoiar financeiramente a família de Elizabeth e, inclusive, estavam estudando a possibilidade de um suporte aos parentes nos meses seguintes.

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Solioz afirma que não foi exatamente isso que aconteceu, mas recebe uma pensão (€ 600) para cada filha. “Não tive tanta ajuda, a não ser por parte da minha família”, disse.

Já a prefeitura de Nice, segundo ele, propôs todo tipo de ajuda, como "o envio de € 1 mil" para arcar ao menos com as passagens de avião.

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