Alemanha fornecerá armas aos curdos junto com EUA e França

Berlim afirma que terroristas do Estado Islâmico provocam 'catástrofe humanitária' na região; Hollande convocará conferência em Paris

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Por Andrei Netto , correspondente e Paris
Atualização:
A ministra da Defesa da Alemanha, Ursula von der Leyen, e o ministro das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier anunciaram a decisão nesta quarta-feira Foto: Odd Andersen/AFP

PARIS - O governo da Alemanha anunciou nesta quarta-feira, 20, em Berlim, que vai se juntar aos Estados Unidos e à França e passar a fornecer armas aos líderes curdos que lutam contra o Estado Islâmico (EI), grupo radical que assumiu o controle de partes de territórios do Iraque e da Síria. A decisão foi anunciada horas depois de o presidente da França, François Hollande, convocar a comunidade internacional a ajudar na luta contra os jihadistas que atuam no Oriente Médio.

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O anúncio foi feito em Berlim pelo ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, e pela ministra da Defesa, Ursula von des Leyen, um dia após a divulgação do vídeo da decapitação do jornalista americano James Foley na Síria. Segundo Steinmeier, o governo de Angela Merkel se juntará aos EUA e à França e também iniciará “o mais rápido possível” a entrega de armas aos curdos com o objetivo de evitar a ascensão do Estado Islâmico, uma “catástrofe devastadora” para o restante do mundo.

A decisão foi tomada apesar de pesquisas de opinião indicarem que 74% dos alemães são contra o fornecimento de armas. “Queremos fazê-lo em um volume que reforce a capacidade dos curdos de se defender”, explicou. Para a ministra da Defesa, é preciso agir porque a ascensão do grupo terrorista provocou “uma catástrofe humana” na região.

Horas antes, o presidente da França anunciou que convocará uma reunião de alto nível em Paris em setembro para discutir uma ação militar coordenada. Embora não tenha participado da invasão do Iraque em 2003 – e a tenha vetado no Conselho de Segurança da ONU –, a França é o país europeu mais disposto combater o avanço dos militantes do Estado Islâmico no Oriente Médio.

Em entrevista ao jornal Le Monde, Hollande afirmou que “a situação internacional é a mais grave que conhecemos desde 2001”, quando ocorreram os atentados do 11 de Setembro em Nova York e Washington. “Nós precisamos enfrentar não um movimento terrorista como a Al-Qaeda, mas um quase Estado terrorista, o Estado Islâmico”, advertiu. “Não podemos mais nos ater ao debate tradicional sobre intervenção e não intervenção.”

Para o presidente francês, líderes de diferentes países precisam se organizar em uma ação conjunta, unindo-se aos EUA e à França. “Devemos prever uma estratégia global contra este grupo que se estruturou, dispõe de financiamentos importantes e de armas sofisticadas e ameaça países como Iraque, Síria e Líbano”, afirmou. “Proporei em breve a nossos parceiros uma conferência sobre a segurança do Iraque e a luta contra o Estado Islâmico.”

Conforme Hollande, a Europa corre o risco de se tornar alvo do grupo radical islâmico se permitir sua expansão no Oriente Médio, até pela presença de jihadistas europeus entre seus membros. “Não o fazemos apenas para apoiar os curdos ou os iraquianos, mas também por nossa segurança”, argumentou, lembrando que há franceses entre os radicais islâmicos. “Enfrentamos uma verdadeira ameaça dos jihadistas.”

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Hollande confirmou que as Forças Armadas já estão fornecendo equipamentos bélicos aos líderes curdos do norte do Iraque, conforme fora anunciado na semana passada. “Cuidei para que as entregas sejam feitas em pleno acordo com as autoridades de Bagdá para que não haja nenhuma dúvida sobre a utilização destes meios e o quadro político seja de unidade no Iraque”, assegurou, alfinetando seus parceiros europeus antes de a Alemanha anunciar a entrega de armas: “A França foi pioneira e convenceu a Europa de sua escolha, mesmo que sejamos os únicos, com os EUA, a tê-lo feito até aqui”.

Síria. De acordo com o governo francês, a Europa precisa se movimentar, pois cometeu o erro de não intervir na Síria e ajudar na luta contra o regime de Bashar Assad, abrindo o espaço para o movimento jihadista. “Se há dois anos tivesse havido uma ação para instalar um governo de transição, não teríamos o Estado Islâmico”, afirmou Hollande.

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