Ameaça terrorista pauta 5° debate republicano nos EUA

Pré-candidatos participaram do quinto embate antes das prévias do partido; Trump e Rubio sustentam propostas radicais

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Por Cláudia Trevisan e CORRESPONDENTE/WASHINGTON
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WASHINGTON - Os Estados Unidos foram apresentados como um país inseguro, vulnerável e sob ataque de radicais islâmicos terroristas no quinto debate entre os pré-candidatos republicanos à presidência, que tentaram convencer o público de que são os mais preparados para dirigir os EUA na guerra contra o Estado Islâmico. O grande enfrentamento da noite opôs os senadores Ted Cruz e Marco Rubio, que buscam garantir o segundo lugar na corrida liderada por Donald Trump.

O encontro ocorreu duas semanas depois do ataque que deixou 14 pessoas mortas em San Bernardino e no dia em que um falso alarme de bomba levou à suspensão de aulas em todas as escolas de Los Angeles. A discussão também teve a influência do atentado que deixou 130 vítimas em Paris há pouco mais de uma mês, em uma ação reivindicada pelo Estado Islâmico.

Donald Trump fala durante o debate Foto: Robyn Beck/AFP

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Em diferentes graus, todos os candidatos exploraram o temor dos americanos em relação ao terrorismo, que nos últimos dias atingiu níveis não vistos desde o momento posterior aos ataques de 11 de setembro de 2001. Incluindo o atentado em San Bernardino, 45 pessoas morreram nos EUA neste ano em ações inspiradas no radicalismo islâmico. O número é inferior às 48 que foram vítimas de atos terroristas cometidos por extremistas brancos de direita, segundo levantamento da New American Foundation. 

No dia 3 de outubro, um único ataque dos Estados Unidos a um hospital da organização Médicos Sem Fronteiras no Afeganistão deixou 42 pessoas mortas, entre as quais médicos e pacientes.

Em quinto lugar nas pesquisas, o ex-governador da Flórida Jeb Bush foi mais assertivo na defesa de suas posições e em suas críticas às propostas de Trump de barrar a entrada de muçulmanos nos Estados Unidos e de punir familiares de terroristas, mesmo que eles não tenham responsabilidade por seus atos. "Você não vai chegar à presidência com insultos", afirmou Bush, para quem as posições de Trump não são "sérias".

Cruz e Rubio divergiram em relação à estratégia de combate ao Estado Islâmico, à reforma do sistema de imigração e à mudança dos programas de vigilância da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês). Em segundo lugar nas pesquisas, Cruz reiterou a proposta de "cobrir de bombas" as posições do grupo extremista na Síria e no Iraque, evitando responder de maneira direta se estaria disposto a provocar a morte indiscriminada de centenas de milhares de civis em Raqqa, cidade que é a capital do grupo na Síria.

Rubio defendeu o fortalecimento das alianças com países árabes sunitas da região. Segundo ele, a confiança dessas nações nos Estados Unidos foi enfraquecida pela política de Barack Obama e o acordo nuclear com o Irã, país de maioria xiita visto como adversário pelos aliados tradicionais americanos.

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O destino do presidente sírio Bashar Assad também opôs os dois senadores. Cruz se colocou contra a política de mudanças de regime e disse que o Oriente Médio era mais estável com Saddam Hussein no Iraque, Muamar Kadafi na Líbia e Hosni Mubarak no Egito. "Se derrubarmos Assad, o ISIS tomará o controle da Síria", afirmou Cruz, usando uma das siglas pelas quais o grupo é conhecido. 

"Se um ditador anti-americano como Assad cair, eu não vou derramar uma lágrima", respondeu Rubio, que atacou Cruz pelo conservadorismo fiscal que levou a sucessivos cortes no orçamento militar. "Não podemos cobrir o ISIS de bombas se não tivermos aviões", provocou.

A proposta de Trump de proibir de maneira indiscriminada a entrada de muçulmanos nos EUA foi criticada por todos os demais participantes do debate. O bilionário também ficou na berlinda por defender o "fechamento" de parcelas da internet, para torná-la inacessível aos extremistas, e por propor punição de familiares de terroristas. Em participação pelo Facebook, um jovem perguntou ao candidato como os EUA se diferenciariam do Estado Islâmico se passassem a matar pessoas por seus vínculos familiares com suspeitos de atos terroristas.

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"Isso faria muita gente pensar. Porque eles não se preocupam muito com suas próprias vidas, mas eles se preocupam, acredite ou não, com a vida de seus familiares", afirmou Trump. "A ideia de que isso é a solução é simplesmente uma loucura", interveio Bush. "Não faz o menor sentido sugerir isso."

Ainda em terceiro lugar, mas em queda livre nas pesquisas, o ex-eurocirurgião Ben Carson se colocou contra a aceitação de refugiados sírios pelos Estados Unidos, posição defendida por muitos dos outros candidatos. "Os terroristas se infiltrarão entre os refugiados. Se não fizerem isso, serão culpados de negligência terrorista."

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