Análise: A estratégia por trás de uma ação só com bombardeios aéreos

Estados democráticos não são mais propensos do que seus pares autocráticos a empregar campanhas somente aéreas. Mas países ricos – e por extensão, militarmente poderosos – são mais propensos a usar ataques aéreos

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Por Carla Martinez-Machain e Susan Hannah
Atualização:

A dependência do poder aéreo aumentou muito nas últimas décadas, à medida que a tecnologia e o direcionamento dos mísseis foram aperfeiçoados. Há diferenças fundamentais entre a escolha de usar somente os ataques pelo ar (como ocorreu na guerra da Otan em Kosovo em 1999) e os usos do poder aéreo em conjunto com a presença física direta de soldados no solo – como na Guerra do Golfo de 1991.

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O destróier USS Monterey dispara um mísisl Tomahawk em direção à Síria, em resposta a uso de armas químicas por Assad Foto: Mass Communication Specialist Seaman Trey Fowler/U.S. Navy via AP

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Estados democráticos não são mais propensos do que seus pares autocráticos a empregar campanhas somente aéreas. Mas países ricos – e por extensão, militarmente poderosos – são mais propensos a usar ataques aéreos. Essa dinâmica nos ajuda a compreender a campanha militar da Arábia Saudita no Iêmen, por exemplo. Ataques aéreos são mais prováveis quando as possibilidades de uma intervenção são baixas. 

Será que os Estados ricos e poderosos só usam o poder aéreo quando o tema não é relevante o suficiente para colocar soldados em campo? Tanto Saddam Hussein quanto Slobodan Milosevic certamente agiram como se acreditassem exatamente nisso – eles tentaram resistir aos ataques aéreos liderados pelos EUA em várias ocasiões. Ações aéreas também são um sinal de baixas possibilidades de vitória do agressor.

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Em conflitos de alto risco, os países têm muito mais possibilidades de combinar ataques aéreos com o envio de forças terrestres. Apenas com ataques aéreos, os alvos podem inferir, com razão, que a crise é uma prioridade menor da política externa para o Estado atacante. É claro que os líderes que decidem por esta estratégia podem argumentar que estes são um sinal dispendioso de futuros usos da força. 

Embora os ataques aéreos possam de fato ser usados como um meio para a escalada, os alvos provavelmente têm consciência de que são um sinal limitado. Ataques aéreos apenas, como uma resposta a uma crise podem, assim, levar o alvo a concluir que o atacante está indeciso. Isso pode levar o país prestes a ser atacado a resistir e não fazer grandes concessões. 

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Os ataques aéreos sozinhos não são particularmente eficazes. A ação aérea de abril de 2017 contra a base aérea Shayrat representou um esforço mínimo, não surpreende que, apesar da riqueza e da superioridade militar dos Estados Unidos, não tenha havido um impacto duradouro.

A decisão final do presidente Donald Trump de empregar este tipo de ação não é particularmente surpreendente. Deixando de lado suas opiniões pessoais, ele é o líder de um país rico com poucas boas opções militares na Síria, um país onde as opções para os EUA são relativamente baixas. Pela segunda vez em sua presidência, Trump escolheu os ataques aéreos. Provavelmente não será a última vez. / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO SUSAN HANNAH ALLEN É ESPECIALISTA EM COERÇÃO E PROFESSORA DA UNIVERSIDADE DO MISSISSIPI. CARLA MARTINEZ-MACHAIN É PROFESSORA DA UNIVERSIDADE DO KANSAS, ONDE PESQUISA EFETIVIDADE MILITAR