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ANÁLISE: As mentiras sobre a amante e a estranha sensação de déjà vu

Você vem tendo uma incômoda sensação de dèja vu? Não se preocupe: não está sozinho.

Por Jennifer Rubin
Atualização:

Um presidente já sob investigação de um promotor especial viu-se envolvido num litígio com uma ex-amante. No decorrer do processo por ela movido, esse presidente mentiu, primeiro em público, depois sob juramento. O perjúrio foi facilmente comprovado e a Câmara de Deputados pediu seu impeachment. Esse caso, claro, foi entre Bill Clinton e Paula Jones, mas lembra bem o que está acontecendo hoje.

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No começo do mês, a atriz Stephanie Clifford apresentou um pedido de anulação de seu acordo de confidencialidade pois elenão conta com a assinatura de Donald Trump Foto: AFP PHOTO / GETTY IMAGES NORTH AMERICA AND AFP PHOTO / MANDEL NGAN AND Ethan Miller

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Stormy Daniels já acusara Donald Trump de difamação, em parte baseada na afirmação de Trump de que a história contada pela moça - de que fora ameaçada por Trump num estacionamento - era falsa. Segundo Trump, a acusação de Stormy de que os dois tiveram um affair era “mentirosa e visava a extorsão”. Agora, Stormy tem em mãos um esplêndido caso.

Não é de admirar, pois, que o advogado de Stormy, Michael Avenatti, esteja rindo à toa. Há muito ele afirma ter provas para corroborar o que diz sua cliente. Avenatti poderá fazer Trump depor sob juramento para responder a perguntas como:

- O sr. teve relações sexuais com minha cliente?

- O sr.negou publicamente na TV não ter conhecimento de que um pagamento para encerrar a questão foi acertado?

- O sr. reembolsou seu advogado, Michael Cohen, por haver adiantado o dinheiro?

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- O sr. dividiu o total combinado em pagamentos mensais? Por quê?

- O sr. pagou a outras mulheres para manterem silêncio sobre casos que teve com elas? Quantas? Todas tentaram tomar seu dinheiro? Quais os nomes delas? Quanto o sr. dispendeu nesses casos?

Além disso, Cohen se tornou uma testemunha-chave no caso de difamação. Segundo Stormy, Cohen forçou-a a fazer um acordo. Ela diz que não pressionou ninguém, e sim foi pressionada. Em consequência, Cohen poderá ter de responder a perguntas semelhantes às que seriam feitas a Trump. Um deles, ou ambos, poderia invocar a Quinta Emenda (permanecer calado para evitar a autoincriminação), mas muitos americanos interpretariam isso como indício de que um ou ambos violaram a lei.

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Para completar, Avenatti leva algumas vantagens sobre Robert S. Muller III (o promotor que investiga supostas ligações da campanha eleitoral de Trump com a Rússia). Avenatti pode fustigar Trump diariamente na TV, tática que já levou o presidente a mentir publicamente sobre não ter conhecimento do acordo financeiro. Avenatti não pode ser demitido por Trump. E, tomando-se o precedente do caso Paula Jones, o advogado de Stormy Daniels tem o direito inquestionável de fazer Trump depor sob juramento.

Há um delicioso karma no que está ocorrendo com Trump. Ele massacrou Hillary Clinton durante a campanha presidencial por ela supostamente ter ajudado o marido a manchar a reputação de mulheres que acusaram o presidente mulherengo de escapadas sexuais. E o karma atinge o apogeu quando lembramos de que Trump passou a vida ameaçando (e mesmo processando) pessoas que o acusavam de difamação.

Aí é que se entende por que Melania Trump teria chorado na noite da eleição. Melania seguramente conhecia a propensão do marido a mentir e estaria calculando as potenciais complicações legais que ele poderia enfrentar no cargo.

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Trump mudou versão e disse que reembolsou seu advogado Michael Cohen pagamento de US$ 130 mil à atriz pornô Stormy Daniels Foto: AFP PHOTO / AFP PHOTO AND GETTY IMAGES NORTH AMERICA / MANDEL NGAN AND JOE RAEDLE

Que ninguém se surpreenda se Ivanka Trump, que reivindica “o direito” de acreditar nas afirmações do pai, por mais grosseiras que sejam, jogar a toalha na defesa que faz dele. Talvez seja hora de Ivanka e Jared Kushner voltarem para Nova York. Ou talvez seja hora de o próprio Trump cair fora. /TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

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