Análise: Comey paga preço da própria covardia no ‘caso Hillary’

Se ele seguisse a política de sigilo do FBI, os republicanos o acusariam de encobrir informações em favor da candidata democrata

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Por Paul Waldman
Atualização:

Cada vez que era forçado a responder a perguntas sobre sua decisão de se meter na campanha presidencial de 2016, apenas 11 dias antes da eleição, o diretor do FBI, James Comey afundava-se mais e mais no atoleiro da própria incompetência e fraqueza. Então, veio a revelação de que ele mentiu no depoimento da semana passada ao Congresso, quando defendeu sua decisão de tornar pública a suposta revelação de que o FBI havia encontrado e-mails de Huma Abedin no computador do marido dela. Ele fez o anúncio antes mesmo de o FBI ter lido os e-mails – os quais, uma vez lidos, não traziam nada com que se preocupar.

O diretor do FBI, James Comey, durante audiência na Comissão de Justiça do Senado Foto: AP Photo/Carolyn Kaster

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Talvez Comey não soubesse, ou tenha se confundido. Mas era de se esperar que tratasse corretamente do assunto, já que sua decisão irresponsável levou Donald Trump à Casa Branca. Vamos recapitular como foi assustadora essa decisão de Comey de tornar público o fato de que o FBI estava investigando o computador de Abedin.

Ele violou diretamente a política do FBI de não comentar investigações envolvendo candidatos a cargos públicos dias antes da eleição, justamente para evitar situações como a criada por Comey.

Naturalmente, ele tinha de avaliar se candidatos poderiam ser afetados por sua decisão. Não estou afirmando que Comey fez o que fez porque é um partidário republicano que tentava derrotar Hillary Clinton. O que transpareceu nas amplas reportagens sobre o assunto é que sua decisão foi provavelmente motivada por um temor muito particular: o de que os republicanos o criticariam. Em outras palavras, não houve intenção criminosa – foi a covardia que o levou a fazer o que fez.

Se Comey seguisse a política do FBI, os republicanos, ao tomarem conhecimento, o acusariam de encobrir o fato em favor de Hillary. Se ela se tornasse presidente, os republicanos o atacariam na imprensa e ele teria de dar explicações ao Congresso. Seu nome seria amaldiçoado. Essa é a catástrofe que ele aparentemente temia. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ É COLUNISTA

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