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Angela Merkel supera impasse sobre formação de governo de coalizão

Após horas de debate, social-democratas e CDU chegam a acordo sobre questões como reforma da UE e imigração

Por Andrei Netto , CORRESPONDENTE e PARIS
Atualização:

Após três mandatos à frente da Alemanha, a chanceler Angela Merkel conseguiu nesta sexta-feira, dia 12, firmar um acordo político para a criação de um “governo sólido”. Ao fim de uma semana de negociações e de uma maratona de 24 horas de reuniões, dirigentes de seu partido, a União Democrata-Cristã (CDU), chegaram a um entendimento com o oposicionista Partido Social-Democrata (SPD) para reeditar a aliança que já governou o país duas vezes neste século. 

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Em troca, teve de ceder às exigências feitas por Martin Schulz, futuro vice-chanceler. A aliança representava uma das últimas chances de Merkel antes da convocação de inéditas eleições antecipadas, já que ela venceu a votação em setembro de 2017 com apenas 32% dos votos e a CDU não obteve maioria no Parlamento. 

Chanceler alemã, Angela Merkel Foto: AFP / John MACDOUGALL

A baixa votação impedia Merkel de formar um novo gabinete, já que a chanceler sempre descartou a hipótese de um governo de minoria no Legislativo. Negociações anteriores com o Partido Verde e o Partido Liberal-Democrata (FDP) fracassaram. 

Ao longo das negociações com Schulz, o impasse foi criado entre o parceiro histórico da CDU, a União Cristã-Social (CSU), da Baviera, mais conservador e mais avesso às exigências do SPD. Os temas mais delicados da pauta foram a política migratória – os conservadores pretendiam limitar a entre 180 mil e 220 mil o número máximo de ingresso de refugiados no país por ano – e o endurecimento das regras de acesso ao reagrupamento familiar dos asilados. Já os social-democratas rejeitam essas limitações.

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Outro tema divergente foi o das reformas na União Europeia. Schulz é alinhado à proposta do presidente da França, Emmanuel Macron, que deseja a criação de um Legislativo exclusivo dos países da zona do euro, um cargo de ministro das Finanças da moeda única, com um orçamento próprio, e a mutualização de dívidas futuras. O CSU rejeitava essas bandeiras, ainda mais porque enfrenta eleições na Baviera em setembro. 

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O conteúdo do acordo ainda terá de passar por duas instâncias de avaliação dentro do SPD antes de a aliança ser confirmada. No dia 21, 600 delegados social-democratas avaliarão o acordo. Se for aprovado, o documento será encaminhado ao voto dos militantes. Então, Merkel e Schulz entrarão em uma nova fase de debates, já com a coalizão formada, para definir os detalhes do plano de governo e a formação do ministério. 

Ainda que seja confirmada, a coalizão entre Merkel e Schulz não será uma garantia de estabilidade, ao contrário do que pretende a chanceler. Pesquisa do jornal Handelsblatt indica que 56% dos alemães não acreditam que a chefe de governo vá chegar ao fim de seu quarto mandato, por sua posição de fraqueza na aliança. No entanto, para o cientista político Marcel Dirsus, da Universidade de Kiel, a chanceler ainda fará parte da paisagem política da Alemanha por um bom tempo. 

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