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Antissemitismo na Europa

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Por Gilles Lapouge
Atualização:

A guerra de Gaza entre soldados israelenses e os extremistas do Hamas é exportada, à sua maneira, para toda a Europa, em particular França e Alemanha. A brutalidade dos soldados israelenses, as declarações glaciais do premiê israelense Binyamin Netanyahu, a desproporção entre o pequeno número de israelenses mortos (algumas dezenas de soldados) e a hecatombe de combatentes, mulheres e crianças árabes, tudo isto desperta a lembrança de uma das vergonhas da última guerra mundial: o antissemitismo. A França está na primeira fila deste combate ambíguo. É verdade que o país tem uma longa e infame tradição de antissemitismo, um dos "pecados" da extrema direita francesa. Durante a 2.ª Guerra, o governo colaboracionista do marechal Pétain perseguiu os judeus, antes até de receber ordens de Hitler. E, máximo da vergonha, a França de Pétain chegou a deportar judeus franceses para os fornos alemães. A este antissemitismo foi acrescentado há alguns anos o "antissionismo", ou seja, a rejeição não só dos judeus, mas do Estado judaico. Por exemplo, a esquerda francesa, em solidariedade com a causa árabe, pende com frequência para o antissionismo. Assim, quando Gaza pega fogo, antissionismo e antissemitismo, extrema direita e extrema esquerda, se associam para colocar na rua multidões alucinadas. Na Alemanha.Tudo isso é comum e quase rotineiro na França. O que ocorre na Alemanha é mais novo e muito inquietante. Desde o fim da guerra, os alemães, arrasados com a lembrança monstruosa do Holocausto desejado por Hitler (seis milhões de corpos calcinados), pareciam curados para sempre, cauterizados contra o antissemitismo. Ora, com a guerra de Gaza, descobrimos que a "besta imunda" continua a espalhar sua baba mortal. É uma surpresa. No fim do reinado de Hitler, a Alemanha estava esvaziada dos seus judeus. Havia só algumas centenas que escaparam do massacre. Hoje, 110 mil judeus vivem no país e são respeitados. Ora, a guerra de Gaza despertou um antissemitismo infame. Nos últimos dias, em Dortmund ou Frankfurt, neonazistas têm participado em grande número das manifestações em favor da população de Gaza gritando: "Hamas! Hamas! Judeus nas câmaras de gás!". Em Berlim, manifestantes gritavam: "Judeus, judeus, porcos sujos, desçam e venham lutar". Estes extravasamentos, estas repentinas exteriorizações de sentimentos reprimidos poderiam ter um valor terapêutico se o premiê Netanyahu não se fizesse de surdo, tivesse um mínimo de sensibilidade. Ele compreenderia que o método que escolheu de uma vez por todas, o uso da força, não levará à erradicação dos palestinos, mas tornará ainda mais profundo o fosso no qual o Estado judeu corre o risco de despencar. Em Israel há 4,5 milhões de palestinos árabes sob ocupação israelense, que assistem petrificados ao que vem ocorrendo na Faixa de Gaza. Uma espécie de África do Sul à época do apartheid está em vias de se formar neste país de Israel que foi outrora uma magnífica democracia e uma das glórias do mundo. A comunidade internacional, que há muito tempo tem se mostrado condescendente com Israel acha cada vez mais difícil assistir, sem reagir, a esse salto para a desgraça. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK GILLES LAPOUGE É CORRESPONDENTE EM PARIS

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