Ao menos 50 repressores da ditadura argentina obtiveram prisão domiciliar em 2016

De acordo com reportagem do jornal 'Clarín', decisões refletem mudança de doutrina nos tribunais em relação à gestão dos presidentes Néstor e Cristina Kirchner (2003-2015)

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BUENOS AIRES - Vários juizados federais da Argentina decidiram desde fevereiro conceder prisão domiciliar a 50 militares e policiais que estavam presos por delitos de crime contra a humanidade cometidos durante a última ditadura (1976-1983), informaram fontes judiciais.

A decisão diz respeito a presos maiores de 70 anos e apela a motivos de saúde, indicou o jornal Clarín. Segundo o jornal, "isso reflete uma mudança de doutrina nos tribunais" em relação à gestão dos presidentes Néstor e Cristina Kirchner (2003-2015), que fizeram do tema dos direitos humanos uma bandeira política que levou a centenas de julgamentos e prisões de repressores de um período militar que deixou 30 mil desaparecidos.

Presidente da Argentina, Mauricio Macri, visita a antiga Escola de Mecânica da Marinha (Esma), em Buenos Aires, que funcionou como o maior centro de detenção clandestina da ditadura no país Foto: EFE/PRESIDENCIA DE ARGENTINA

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Outra mudança em relação à gestão kirchnerista, descrita como "um pesadelo para os repressores", é que o atual ministro da Defesa de Mauricio Macri, Julio Martínez, permitiu que os presos de crimes contra a humanidade voltem a ser atendidos em hospitais militares, o que havia sido proibido por seu antecessor, Agustín Rossi.

O governo de centro-direita de Macri tem tido uma relação tensa com os principais organismos de direitos humanos na Argentina, entre eles Avós e Mães de Praça de Maio.

O governo ratificou que os julgamentos de crimes contra a humanidade prosseguirão, mas o ministro da Justiça, Germán Garavano, reiterou que conceder prisão domiciliar "é uma questão dos juízes, não é impunidade e sim cumprimento da lei".

De acordo com o Centro de Estudos Legais e Sociais (CELS), até março deste ano havia 666 condenados (50 falecidos) e 59 absolvidos. Mas, segundo este organismo, há 2.389 militares e membros das forças de segurança acusados: 1,2 mil deles livres, 1.132 detidos e 49 foragidos. / AFP

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