Apego a redes sociais indica governo impulsivo

Segundo especialista, americanos desejam que seus presidentes reflitam e sejam controlados

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Por Cláudia Trevisan , Correspondente e Washington
Atualização:

Às 11h50 de 22 de dezembro, Donald Trump tuitou que os Estados Unidos deveriam “fortalecer e expandir” seu arsenal nuclear, colocando em xeque os esforços feitos por Washington nas últimas décadas para conter o número de ogivas globais e evitar uma corrida atômica. 

O perfil de Donald Trump no Twitter Foto: Reprodução

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Com 70 anos de idade, Trump é o mais velho a assumir a presidência dos Estados Unidos e o primeiro a explorar à exaustão o poder de uma das mais novas armas de comunicação em massa, o Twitter. Em 140 caracteres – limite de tamanho das mensagens na rede social –, ele intimida adversários, causa abalos sísmicos nos mercados acionários, abre crises diplomáticas e anuncia medidas bombásticas – no sentido literal da palavra.

O novo ocupante da Casa Branca também utilizou o Twitter para criticar os serviços de inteligência dos Estados Unidos e a imprensa tradicional do país, ameaçar empresas e atacar celebridades que se opuseram à sua candidatura. “Meryl Streep, uma das mais superestimadas atrizes de Hollywood, não me conhece, mas me atacou na noite de ontem no Globo de Ouro”, escreveu Trump, após a estrela ter usado seu discurso de agradecimento no prêmio para lamentar a atuação do presidente eleito.

Trump não deu indicação de que abandonará sua atividade no perfil pessoal que mantém Twitter, marcada pela impulsividade e o desprezo aos limites da correição política, duas das principais características que seduziram seus eleitores. 

Apesar de prometer, após o resultado da eleição, que seria contido no uso das redes sociais, Trump não reduziu a frequência nem o tom de suas mensagens. O presidente tuíta quase todos os dias e muitas vezes usa sucessivos posts para falar sobre o mesmo tema. Várias mensagens parecem ser reações imediatas a críticos ou notícias específicas e algumas delas têm efeitos colaterais, como queda nos preços das ações de empresas criticadas por ele. 

Temores. “A impulsividade não é uma qualidade que os americanos esperam de seus presidentes”, afirmou o cientista político Geoffrey Kabaservice, autor do livro Rule and Ruin (Governar e Arruinar), sobre o Partido Republicano. “Eles esperam que o presidente do país reflita, seja controlado e diplomático. O Twitter provoca reações instantâneas.”

Na pesquisa Wall Street Journal/NBC divulgada na quarta-feira, 69% dos entrevistados reprovaram o uso do Twitter pelo ocupante da Casa Branca e concordaram com a frase “em um instante, mensagens podem ter consequências involuntárias sem uma revisão cautelosa”. Apenas 26% disseram que o uso da rede social por Trump era positivo por permitir que ele se comunique diretamente com a população.

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Tudo indica que o novo presidente manterá sua conta pessoal no Twitter (@realdonaldtrump), na qual tem 20,4 milhões de seguidores e onde publicou 34,3 mil posts desde 2009. Obama também tem seu Twitter (@barackobama), mas o usa de modo extremamente disciplinado. Desde 2007, ele postou 15,4 mil mensagens.

Populismo. Em entrevista à Fox News na quarta-feira, Trump disse que utiliza o Twitter para se defender da “mídia desonesta”. Durante a campanha e no período de transição, o novo presidente usou suas mensagens para pautar o noticiário, tirar o foco de coberturas negativas e se comunicar diretamente com militantes. “Não gosto de tuitar, tenho outras coisas para fazer. Mas eu tenho (de enfrentar) uma mídia muito desonesta, uma imprensa muito desonesta. É minha única maneira de reagir”, afirmou. “Se a imprensa fosse honesta, o que não é, eu não usaria o Twitter.”

Os que acompanham a política externa americana temem o impacto que as mensagens impulsivas de Trump podem ter sobre a imagem dos EUA no cenário internacional e na relação do país com aliados e adversários. “Há um problema de credibilidade, de saber se quando ele disser algo no Twitter isso refletirá a política dos Estados Unidos”, observou Stephen Haggard, professor da Escola de Estratégia e Políticas Globais da Universidade da Califórnia.

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