PUBLICIDADE

Apesar de Flec, brasileiros se dizem seguros em Cabinda

Recomendação de empresas é para não deixarem perímetro urbano.

Por Eric Brücher Camara
Atualização:

O ataque contra a seleção de Togo em Angola chamou a atenção do mundo para o movimento pela independência da província angolana de Cabinda, mas brasileiros que moram na região dizem não se sentir acuados pelos militantes. O atentado chegou a surpreender o mestre de obras Helânio Pimenta, que mora em Cabinda há mais de dois anos. "Meu medo aqui é zero. Quando cheguei, o povo tinha muito medo da Flec (Frente de Libertação do Estado de Cabinda), hoje a gente até esquece que ela existe. Lembrei com o atentado", afirmou Pimenta à BBC Brasil. Ignorando as recomendações de segurança da maioria das empresas da região, o brasileiro afirma sair frequentemente da cidade para pescar em rios da floresta ou ir à praia. O vice-presidente da Associação de Empresários e Executivos Brasileiros em Angola (Aebran), Arnaldo Santos, diz que não há dados confiáveis, mas estimativas informais dão conta de que até 50 brasileiros vivam no enclave. "Só existe risco se sair do perímetro urbano. É mais ou menos como no Brasil: em que é preciso falar com o tráfico em algumas áreas", comparou Santos. 'Blitz' da Flec Grande parte dos brasileiros em Cabinda trabalha para a construtora Mello Júnior, que realiza obras de infra-estrutura na região. "A recomendação da empresa é para tomar cuidado, mas nós brasileiros temos muitas amizades e não temos este tipo de temores", afirmou um empregado da construtora que preferiu não se identificar. Para o trabalhador, que mora em Angola há três anos, se existem pessoas atuando pela Flec, "estão disfarçadas". No entanto, a experiência do médico Marcio Oliveira Lucas, de 40 anos, é outra. Ex-empregado da petroleira americana Chevron, ele contou à BBC Brasil que foi parado pela Flec diversas vezes nos quatro anos em que viveu em Cabinda. "A restrição era clara, não se podia passar do município de Lândano sem ser parado. Em todas as vezes que saímos dessa região fomos parados", afirmou Lucas, que hoje mora em Luanda. "Tínhamos que explicar precisamente o que iríamos fazer. Mesmo com ajuda humanitária, abriam caixa por caixa." 'Grupo fragmentado' O médico, que hoje trabalha para outra empresa, se mudou para a capital angolana em abril do ano passado. Atualmente, a Frente de Libertação do Estado de Cabinda é considerado um grupo pequeno e fragmentado de insurgentes, que tentam impedir Angola de governar a província e exigem a independência. Uma facção da Flec assumiu responsabilidade pelo ataque contra a seleção do Togo, que tinha acabado de entrar na região a caminho da Copa Africana de Nações. O grupo está ativo, de maneiras diferentes, desde a década de 1960. Inicialmente, os militantes lutavam contra o colonizador de Angola, Portugal. Quando Angola conseguiu independência em 1975 e Cabinda foi incluída no território do país, os rebeldes da Flec continuaram a lutar, a partir de então contra o governo de Luanda, já que a população não foi consultada em 1975 quando a província foi anexada. A região está separada do resto do país por parte do território da República Democrática do Congo. Angola é um dos dois principais produtores de petróleo da África subsaariana e tem contratos lucrativos com países como os Estados Unidos e a China. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.