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Após catalães, moradores de Veneza sonham com maior autonomia em relação a Roma

Venezianos alegam que o principal problema da região está relacionado aos impostos que, segundo eles, não beneficiam o bastante seu território

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Por Redação
Atualização:

VENEZA, ITÁLIA - Em Veneza é quase impossível encontrar um cartaz sobre o plebiscito de autonomia convocado no domingo no Vêneto e na Lombardia, mas quase todos os habitantes dizem que votarão para colocar um fim à "má gestão" do Estado, embora rejeitem qualquer comparação com a Catalunha.

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Para os venezianos, o problema fundamental tem a ver com os impostos que, segundo eles, não beneficiam o bastante seu território. Em 2016, o Vêneto apresentou um saldo fiscal - diferença entre o que os habitantes pagam com taxas e impostos e o que recebem como gastos públicos - de € 15,5 bilhões.

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O Vêneto, que se orgulha da taxa de desemprego de 6,7% em relação a uma média nacional de 11,2%, contribui com 10% do PIBitaliano graças a uma extensa rede de pequenas e médias empresas Foto: Alexandre Godinho/ AE

"Isso poderia não ser um problema se essas taxas fossem bem investidas, mas a verdade é que em nível nacional mal se gastam € 30 bilhões por ano", lamenta o presidente da região, Luca Zaia, que convocou o plebiscito consultivo com o qual pretende reivindicar competências adicionais em departamentos como educação, infraestrutura, entre outros.

Zaia e seu homólogo lombardo, ambos membros da ultra-direitista Liga Norte, querem recuperar a metade do saldo fiscal de sua região, um discurso que ganha adeptos e recebe o apoio da centro direita, incluída a Força Itália de Silvio Berlusconi, das organizações patronais e dos sindicatos.

"É justo que os impostos que pagamos sejam gastos em nosso território e não na Sicília", afirma Giuseppe Colonna, um veneziano de 84 anos. "Aqui a gestão administra bem as coisas”, enquanto "há uma má gestão dos recursos por parte do Estado central em Roma", ressalta Nicola Tenderini, um aquarelista de 52 anos.

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Na loja ao lado, Andrea Vianello, que vende alimentos, ratifica a mensagem. "Queremos continuar ajudando a Itália e as regiões mais desfavorecidas, mas gostaríamos de ter um pouco mais de dinheiro para nós.” Segundo ele, a autonomia está no DNA de Veneza, que foi uma república independente durante quase um milênio, antes de sua queda em 1797.

União

O Vêneto, que se orgulha da taxa de desemprego de 6,7% em relação a uma média nacional de 11,2%, contribui com 10% do Produto Interno Bruto (PIB) italiano graças a uma extensa rede de pequenas e médias empresas.

Instalado em Solzano, a cerca de 20 km de Veneza, Gianluca Fascina é um dos 7,5 mil artesãos da região que trabalha no setor da moda. Votará "sim" na consulta, como muitos de seus colegas da Confartigianato, a associação de artesãos.

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"Espero que (uma maior autonomia) permita que as coisas funcionem melhor para as empresas com relação a prazos de pagamento", por exemplo, e nos dê "mais possibilidades de crescer e ser ajudados pela região", explica o dono da Gifa Ricami, uma empresa com 10 funcionários que faz bordados.

Gicami, contudo, não deseja a independência de sua região. "O Vêneto faz parte da Itália e continuará na Itália. Não é um plebiscito como na Espanha", compara. O discurso compartilhado por Nicola Tenderini, que considera que "a maioria das pessoas não querem uma secessão".

Embora a vitória do “sim” seja inquestionável, há dúvidas em torno da participação, sobretudo na Lombardia onde a consulta desperta pouco interesse. No Vêneto se confere uma maior importância à identidade regional, e se espera uma participação maior, necessária porque a consulta só terá validade se alcançar uma participação de 50%.

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Para os verdadeiros separatistas, muito minoritários, o plebiscito é um primeiro teste. "Permitirá que a gente se reúna como venezianos", explica Alessio Morosin, fundador do Independência Veneta. "Sabemos que não permitirá alcançar os objetivos esperados, tanto por motivos políticos como orçamentários, já que o Estado tem uma dívida de mais de € 2,3 bilhões.”

Quando comprovarem o fracasso, os venezianos deverão "fazer uma eleição mais radical" frente a um Estado que os explora, afirma. Ele reconhece, contudo, que o "sentimento" separatista "ainda não é robusto", embora se considere "otimista" sobre o futuro.

Canvey Island

A 1,5 mil quilômetros da Catalunha, uma pequena ilha inglesa também expressa o desejo de independência. Canvey Island, de 40 mil habitantes, quer romper sua relação com o continente.

“Estamos fartos de estar vinculados ao ‘continente’ e ele tomar as decisões em nosso lugar”, diz Dave Blackwell, líder do partido independentista de Canvey Island (CIIP).

Para ele, o desejo de emancipação de seus colegas se deve sobretudo à “mentalidade local”. “As pessoas não querem ser governadas por outros”, os habitantes “são rebeldes”, mas “pacíficos e muito amáveis”. / AFP

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