JERUSALÉM - Cedendo a pressões da ala ultraortodoxa de sua coalizão de apoio, o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, suspendeu no domingo 25 o plano aprovado em janeiro do ano passado de criar uma área mista no Muro das Lamentações, onde homens e mulheres poderiam rezar juntos e rituais não-ortodoxos poderiam ser praticados.
O acordo para a criação do novo espaço foi negociado por quatro anos. A suspensão desse plano deve aumentar a divisão entre Israel e os judeus na América do Norte, partidários de práticas não-ortodoxas da religião, e resultou numa série de críticas nesta segunda-feira, 26.
Natan Sharansky, presidente executivo da Agência Judeia – que promove a imigração a Israel e media relações com a diáspora –, expressou “profunda decepção pela decisão do governo de suspender a implementação da própria decisão de estabelecer um espaço digno para reza igualitária”. A Agência cancelou um evento com a presença de Netanyahu que aconteceria nesta segunda. “A decisão dificultará o nosso trabalho de aproximar Israel do mundo judaico”, acrescentou Sharansky em um comunicado oficial.
O líder do partido Yisrael Beiteinu e ministro da Defesa, Avigdor Lieberman, afirmou que a decisão “é um duro golpe” na unidade do povo judeu e pediu que outros parlamentares “recobrem a razão” e previnam essa cisão.
“Netanyahu iniciou e promoveu este plano, os representantes religiosos presentes votaram, por grande maioria, aceitando a habilitação da zona mista”, disse Hilá Perl, porta-voz das Mulheres do Muro, organização feminista que luta para ter os mesmos direitos e deveres que os homens no referente à religião.
Os ultraortodoxos compõem pouco mais de 11% da população israelense, mas seus rabinos comandam as orações no Muro das Lamentações. Os dois partidos que os representam somam 13 deputados dos 66 que respaldam a coalizão governista – a Câmara possui 120 cadeiras. Com seu peso político, os ultraortodoxos já derrubaram governos em Israel. Enquanto isso, 35% dos cerca de seis milhões de judeus americanos se identificam com a corrente reformista e 18% com a conservadora moderada, segundo pesquisa do Pew Research Center.
O Muro das Lamentações, lugar sagrado do judaísmo, onde existem áreas separadas para homens e mulheres rezarem, tem sido nos últimos anos um foco de disputa entre os ultraortodoxos e comunidades mais liberais ou moderadas.
Após meses de silêncio do governo de Netanyahu, movimentos Reformistas e Conservadores, ao lado das Mulheres do Muro, fizeram uma petição à Suprema Corte para exigir uma resposta. No domingo, o prazo do governo vencia e o premiê deu seu parecer. / NYT e EFE