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Após um ano, Turquia ameaça rever pacto migratório com União Europeia

Depois de recentes embates diplomáticos entre Ancara e países do bloco europeu, como Alemanha e Holanda, acordo que freou o fluxo de refugiados é usado como forma de pressão pelo presidente Erdogan, que busca ampliar seus poderes com referendo

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Por Redação
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BRUXELAS - Um ano após a entrada em vigor do acordo entre União Europeia e Turquia para frear a chegada de refugiados à Europa, Ancara ameaça rever o pacto diante das recentes tensões com países europeus. A retórica turca ganhou força nas últimas semanas, após Alemanha e Holanda proibirem comícios de ministros do governo turco em campanha a favor do referendo para ampliar os poderes do presidente Recep Tayyip Erdogan. 

Recep Tayyip Erdogan, presidente da Turquia Foto: AP Photo/Kayhan Ozer Presidential Press Service

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A Comissão Europeia, por outro lado, segue com o discurso de empenho em manter o acordo. “Como dissemos muitas vezes no passado, a aplicação do acordo implica em confiança mútua e esperamos que as duas partes cumpram seus compromissos”, afirmou o porta-voz da CE, Margaritis Schinas. 

Em um ano, o pacto reduziu a entrada diária de refugiados que saíam da Turquia para as ilhas gregas em 98%, passando de 10 mil, em outubro de 2015, no auge da crise migratória, para 43, segundo último levantamento da CE, divulgado no começo do mês.

Além disso, desde a implementação do acordo, 849 pessoas foram enviadas de volta das ilhas gregas para a Turquia, número que sobe para 1.487 se for levado em conta um pacto entre Ancara e Atenas. O arranjo também facilitou a entrada legal de refugiados sírios – 3.565 foram levados da Turquia para países da UE. 

Para a especialista Stefani Weiss, do Centro de Estudos Bertelsmann Stiftung, apesar de a Turquia insistir em usar o acordo como forma de pressão contra a UE, não interessa a Ancara rompê-lo em razão “de ser uma fonte de entrada de dinheiro e de representar uma ruptura drástica dos laços com a UE”. 

Em troca de receber os refugiados que chegam ilegalmente às ilhas gregas, Ancara tem a promessa de 3 bilhões de euros do bloco para ajudar na acolhida dos refugiados (2,2 bilhões de euros já foram distribuídos).

Diretor da organização Vote Watch Europe, Donu Frantescu disse que a maioria dos partidos políticos no poder na Europa aprova a continuidade do acordo migratório, mas a deterioração de suas relações com a Turquia pode dificultar a implementação futura do pacto. 

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Tensão. No domingo 19, a tensão entre Turquia e Alemanha aumentou e o ministro alemão das Relações Exteriores, Sigmar Gabriel, disse ao seu colega turco, Mevlut Cavusoglu, que o presidente Erdogan foi longe demais ao acusar Angela Merkel de realizar “práticas nazistas”. “Somos tolerantes, mas não somos idiotas”, disse Gabriel durante uma entrevista ao jornal alemão Passauer Neue Presse, que será publicada hoje.

Erdogan voltou a acusar a Alemanha, e pessoalmente Merkel, em um comício em Istambul. “Quando se diz nazista eles ficam nervosos. Começam a se defender imediatamente. Sobretudo Merkel. Você também atua agora como os nazistas. Agora, a Alemanha não deixa nossos ministros e nossos deputados falarem, mas permitem a fala do PKK e da Feto”, acusou Erdogan, em referência ao Partido de Trabalhadores do Curdistão (PKK) e ao movimento do clérigo opositor Fethullah Gulen, que é acusado por Ancara de ter instigado o fracassado golpe de Estado de julho na Turquia. Os comentários devem agravar ainda mais a disputa diplomática entre os dois países.

No sábado, a revista alemã Der Spiegel publicou uma entrevista com o chefe da agência de inteligência alemã BND, na qual ele afirma que Ancara não conseguiu convencê-lo de que Gulen era responsável pela tentativa de golpe. O porta-voz do presidente turco afirmou que os comentários de Kahl eram a prova de que a Alemanha estava apoiando a rede de Gulen. 

Alemanha e Turquia estão em uma disputa cada vez mais profunda, depois que Berlim proibiu alguns ministros turcos de falarem em comícios para turcos expatriados antes do referendo de 16 de abril, citando preocupações de segurança pública. 

Erdogan disse mais uma vez no domingo que Ancara havia enviado a Berlim vários pedidos para pedir a extradição de supostos membros do PKK e de outros grupos esquerdistas armados, quase sempre negada pelo Judiciário da Alemanha. 

O presidente turco comparou a recusa das extradições ao caso do jornalista alemão, de origem turca, Deniz Yücel, detido na Turquia há um mês sob acusações de propaganda terrorista. “Querem que soltemos um agente do terrorismo detido no consulado. O que vamos dizer? Nós também temos um Judiciário”, disse o presidente turco. / AFP, EFE e REUTERS 

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