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Após visita de vice dos EUA, só turistas agitam a rotina monótona da fronteira entre as Coreias

Na Zona Desmilitarizada da Coreia, faixa de 238 km quase despovoada de civis que separa os dois países, aparato de segurança preparado para receber Mike Pence já foi desmobilizado

Foto do author Pedro  Venceslau
Por Pedro Venceslau e Seul
Atualização:

SEUL - No dia seguinte a visita do vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, a Zona Desmilitarizada da Coreia (ZDC) - que separa a Coreia do Norte da Coreia do Sul -, já não havia mais vestígios do enorme aparato de segurança preparado para recebê-lo.

Apesar da movimentação de navios militares dos Estados Unidos na região e da ameaça de Pyongyang de continuar testando mísseis, foram os ônibus com turistas que tiraram a monotonia da faixa de 238 km, que é quase despovoada de civis.

Soldados da Coreia do Sul e dos EUA fazem a segurança do lado sul-coreano da fronteira na Zona Desmilitarizada da Coreia Foto: Pedro Venceslau / Estadão

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O veículo no qual estava a reportagem do Estado foi recebido por um solado americano que fez o papel de guia turístico. Após encontrar o grupo na base de Camp Bonifas, o militar levou os visitantes para um anfiteatro onde fez uma apresentação sobre a região enquanto mostrava fotos históricas.

Entre imagens da Guerra da Coreia, ele explicou a criação da área, após um armistício em julho de 1953, mas não citou em nenhum momento a crise atual. Já a plateia, formada majoritariamente por americanos, ria e vaiava a cada aparição na tela da sucessão de líderes da ditadura norte-coreana.

No caminho até a segunda e mais aguardada parada, o prédio das Nações Unidas que separa as duas Coreias, o soldado, que preferiu não ser identificado pois não tinha autorização superior para dar entrevista, disse duvidar que a escalada dos acontecimentos resulte em uma ataque.

A avaliação dele é que o atual líder norte-coreano, Kim Jong-un é mais "imprevisível e doido" que o pai, mas esse cenário seria ruim para os dois lados. Ele pondera que os EUA dificilmente atingiriam o coração do regime, que está preparado para isso há décadas, e os norte-coreanos não tem poder de fogo real para atingir os americanos.

Questionado sobre a vida na base, o soldado reclama do tédio, apesar de estar apenas há dois meses vivendo na DMZ. "Ainda faltam dez meses e não vejo a hora de ir embora."

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O tempo livre é usado em treinos na academia, sessões de filmes ou em bares nas cidades do entorno. Na DMZ há uma pequena vila civil chamada Tao Song Dong, ou Freedom Vilage (Vila da Liberdade, em tradução livre), onde vivem cerca de 200 pessoas, quase todos agricultores de arroz. No local há uma escola, que funciona com apoio da ONU, um pequeno mercado e uma livraria.

Pelo relato dos soldados, as ameaças do regime norte-coreano já não assustam mais os moradores da região. No Freedom House, os turistas são colocados em fila indiana para cruzar a linha que separa os inimigos.

No meio do caminho entre o prédio e o Panmungak, o bunker norte-coreano do outro lado da rua, há uma casa azul da ONU com uma mesa de reunião no centro onde ocorrem as negociações entre os dois países. Dois soldados sul-coreanos de óculos escuros e semblante zangado permanecem com os punhos cerrados em frente a porta que dá acesso ao lado "vermelho".

Em área rural da Zona Desmilitarizada da Coreia, cercas e grades separam os dois países que, tecnicamente, continuam em guerra já que um tratado de paz nunca foi assinado após o armistício em julho de 1953 Foto: Pedro Venceslau / Estadão

Os turistas são autorizados a fazer fotos, mas selfies com os militares são proibidas. O lado norte-coreano também realiza visitas turísticas. Quando isso acontece, há uma troca de guardas.

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Um turista alemão conta que visitar Pyongyang é mais simples do que parece. Basta ir até Pequim, na China, e lá comprar um pacote de quatro dias na capital norte-coreana. Os visitantes ficam em um hotel especialmente preparado para recebê-los, com acesso a canais como BBC e CNN e até internet discada, de acordo com o relato.

Depois do almoço na vila, a próxima parada é um posto de observação próximo ao "Propaganda Village". O local, uma vila de casas desabitadas no lado norte-coreano, mantém um alto falante ligado o dia inteiro com mensagens de exaltação ao regime.

Em seguida, o grupo vai até o distrito de Paju, onde um dos túneis cavados pelos norte-coreanos e descoberto pelos inimigos virou atração turística.

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Túnel cavado pelos norte-coreanos no distrito de Paju e descoberto pelos inimigos virou atração turística Foto: Pedro Venceslau / Estadão