Após invasão de embaixada em Teerã, Arábia Saudita rompe relações com Irã

Execução de clérigo xiita ordenada por Riad deteriorou situação entre os países; Aiatolá Khamenei diz que mão vingadora de Deus agarrará a garganta dos políticos sauditas’ e manifestantes saem às ruas em Teerã e outras capitais

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Por Redação
Atualização:

BAGDÁ (atualizado às 19h40) - A Arábia Saudita anunciou neste domingo, 3, o rompimento das relações diplomáticas com o Irã em retaliação à invasão da embaixada do país por manifestantes em Teerã, no sábado. O ministro das Relações Exteriores saudita, Adel al-Jubeir, deu ao pessoal diplomático iraniano 48 horas para deixar o território do reino.

O ministro afirmou que a medida foi adotada para mostrar que Riad não permitirá que os iranianos “ameacem a segurança” da Arábia Saudita. Além da ruptura, discursos inflamados alimentaram neste domingo a escalada de tensão iniciada com a execução, pelos sauditas, do clérigo xiita Nimr al-Nimr, que liderava protestos pacíficos no país. O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, afirmou que o reino enfrentará “a vingança divina” pela morte do religioso.

Manifestantes iranianos protestam em Teerã contra a execução de Sheik Nimr al-Nimr Foto: Vahid Salemi/AP

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No sábado, a Arábia Saudita anunciou as execuções de Nimr e outros 46 xiitas sob a acusação de ligação com terrorismo. Na mesma noite, protestos foram iniciados na capital iraniana e manifestantes enfurecidos invadiram e incendiaram parcialmente a embaixada saudita.

“A mão vingadora de Deus agarrará a garganta dos políticos sauditas”, declarou o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, em comentários divulgados por seu site oficial. “O estudioso injustiçado não insuflou as pessoas a adotarem a ação armada nem tramou secretamente”, afirmou.

Protestos contra a execução do clérigo também ocorreram hoje em outras cidades, como Bagdá, Ancara e Londres.

O governo saudita respondeu às reações de Teerã afirmando que o Irã “revelou sua verdadeira face ao apoiar o terrorismo”. A acalorada retórica ressalta as crescentes tensões entre as duas potências que se consideram líderes do mundo islâmico e apoiam lados opostos nos conflitos da região.

Teerã e Riad apoiam lados opostos nas guerras civis da Síria e do Iêmen e lutam pela influência no Iraque, Bahrein, Líbano e em outros países.

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Nos EUA, Ben Rhodes, vice-assistente para a segurança nacional do presidente Barack Obama, recusou-se a comentar especificamente a execução de Nimr, mas disse que, há anos, Washington se queixa às autoridades sauditas pela violação dos direitos humanos. “Gostaríamos que a Arábia Saudita e outros países adotassem medidas para reduzir as tensões sectárias na região”, acrescentou.

Contenção. Apesar do discurso inflamado, autoridades iranianas tomaram, paralelamente, medidas para tentar impedir uma escalada da disputa. Quarenta iranianos foram presos por participarem das manifestações contra os sauditas. 

O presidente do Irã, Hassan Rohani, também condenou a execução hoje, mas disse que os ataques à embaixada saudita em Teerã e ao consulado saudita em Mashhad prejudicaram a imagem do Irã. 

“Não permitimos que grupos rebeldes cometam atos ilegais e prejudiquem a santa imagem da República Islâmica do Irã”, declarou o líder. 

“O que ocorreu na noite passada em Mashhad e em Teerã e os danos colaterais ao consulado e à embaixada saudita são inaceitáveis e injustificáveis.” 

Rohani convocou os ministros do Interior, da Justiça e o chefe da Inteligência para garantir a segurança dos diplomatas sauditas no Irã. 

Também neste domingo, a chancelaria saudita respondeu às críticas iranianas acusando o Irã de “sectarismo cego” e de espalhar o terrorismo “em toda a região”. /AFP e NYT

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PARA ENTENDER

O xeque Nimr al-Nimr vinha liderando protestos pacíficos xiitas na Arábia Saudita e o governo o acusou de incitação à violência. A maioria dos outros 46 homens executados havia sido acusada de envolvimento com a Al-Qaeda numa onda de ataques sangrentos no reino há dez anos. Quatro deles, como o xeque Nimr, no entanto, eram xiitas acusados de participar de manifestações que terminaram com mortes de policiais ou ativistas. A maior parte dos condenados foi decapitada e alguns foram fuzilados. Ao contrário da maioria das execuções sauditas, as de sábado não foram realizadas publicamente ou tiveram imagens divulgadas.

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