As armadilhas no caminho dos norte-americanos

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Por Agencia Estado
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A imensa nuvem de poeira que se ergue por trás da multidão de refugiados afegãos que tentam cruzar a fronteira dá idéia da dificuldade que os soldados americanos terão de enfrentar no território do Afeganistão para capturar o saudita Osama bin Laden. Olhando para a direção de Kandahar, a pouco mais de 100 quilômetros da fronteira, o que se vê é um terreno desértico, montanhoso e muito propício para armadilhas e emboscadas. Militarmente, a vantagem para quem conhece bem essa região é enorme. "A geografia do Afeganistão já fez dele o cemitério de milhares de britânicos e soviéticos, e não deve ser diferente com os americanos, apesar de toda a sua parafernália técnica e seus equipamentos de observação por satélite", disse à Agência Estado Sahid Mohammehd, motorista de caminhão paquistanês que atravessa a fronteira todas as semanas, levando e trazendo mercadorias de Quetta, cidade do sudoeste do Paquistão, para Kandahar, e vice-versa. "As verdadeiras batalhas vão acontecer em terra, e os pashtus estão preparados para elas." Segundo os conhecedores da área, embora a visão da estrada que segue do posto de fronteira para Spin Buldek pareça dantesca - povoada por gritos desesperados de refugiados retidos -, essa não será a maior dificuldade que os "invasores americanos" terão pela frente. "Ao norte, na direção de Cabul e Jalalabad, e a oeste, no caminho de Mazar-i-Sharif, há cadeias de montanhas quase intransponíveis, que podem multiplicar a capacidade de resistência militar dos talebans milhares de vezes", explicou à AE um policial paquistanês na fronteira. "Será um grande erro enviar tropas que não conheçam bem esse terreno para combater os talebans. Até mesmo os tadjiques da Aliança do Norte (formada não só por tadjiques, mas também por uzbeques e hazaras), que têm muita experiência de campo, têm dificuldade de avançar sobre posições talebans em algumas dessas áreas montanhosas." Do posto de vigilância, pode-se ver também a razão da desolação do cenário local. A ponte pela qual passam apressados os afegãos autorizados a entrar no Paquistão serve de travessia sobre o leito de um rio que está completamente seco há três anos. Há quatro anos, uma das piores secas da história recente do país vem castigando os afegãos. Do lado de Chaman, garotos vendem água - armazenada em galões para os refugiados. Não há preço estabelecido, os usuários do "serviço" dão quanto podem dar. E eles não podem muito. Os principais "concorrentes" dos garotos são os funcionários das agências de ajuda humanitária, que fornecem água e ração alimentar para os recém-chegados. O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) estima que, no total, 150 mil deles devam passar pelo posto de Spin Buldek-Chaman até meados de novembro. Mas o policial paquistanês assegura que mais de 200 mil já entraram legalmente no Paquistão por Chaman desde o início dos ataques anglo-americanos. Outros 100 mil, segundo a fonte, podem ter entrado pelos muitos buracos da fronteira entre o Afeganistão e a província paquistanesa do Baluchistão. Os números não parecem confiáveis. A reportagem da AE pergunta quantas entradas foram registradas oficialmente na terça-feira, mas o policial se esquiva da questão e diz que os documentos de registro são enviados a Quetta - a maior cidade paquistanesa das redondezas - várias vezes por dia. Leia o especial

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