Novo acampamento fica na fronteira belga e já acolhe 1,3 mil refugiados, esgotando capacidade
Por Andrei Netto e Calais
Atualização:
CALAIS, FRANÇA - No momento em que o Ministério do Interior faz tudo o que pode para demover imigrantes de acamparem no norte da França, o prefeito da cidade de Grande-Synthe, no norte do país, anunciou nesta semana a abertura formal do primeiro campo humanitário em solo francês, com 213 casas aquecidas de madeira. Trata-se de uma resposta política de um líder ecologista às restrições crescentes aos imigrantes na vizinha Calais, de onde parte dos 1,3 mil novos moradores é proveniente.
O campo é financiamento não só pela prefeitura, administrada por Damien Carême, mas também pela organização não governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF). A ideia de Grande-Synthe é responder às normas internacionais de um campo de refugiados como os mantidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) em países como Turquia e Jordânia.
As transformações em Calais
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As transformações em Calais
A polícia da França começou a desmontar parte da "selva", a favela de imigrantes que se situa em Calais, no norte do país. Na imagem, imigrante se pro... Foto: REUTERS/Pascal RossignolMais
As transformações em Calais
An African migrant pushes his bicycle in a camp close the city hall in Calais, northern France, May 22, 2014. French authorities announced on Wednesda... Foto: REUTERS/Pascal RossignolMais
As transformações em Calais
Com cartazes em árabe e inglês, imigrantes de origem Africana protestam na frente da prefeitura de Calais, na França, em setembro de 2014, contra a vi... Foto: REUTERS/Pascal Rossignol Mais
As transformações em Calais
Visão geral de uma das primeiras formações da "selva", em abril de 2015, que se tornaria um amplo emaranhado de barracos construído pelos imigrantes q... Foto: REUTERS/Pascal RossignolMais
As transformações em Calais
Observada do alto, a "Selva" em calais, começava a se desenvolver às margens da rodovia que dá acesso ao Eurotúnel; em julho de 2015, cerca de 3 mil i... Foto: REUTERS/Pascal RossignolMais
As transformações em Calais
Imigrantes muçulmanos realizam uma de suas rezas diárias ao lado de uma mesquita improvisada em Calais, em agosto de 2015 Foto: REUTERS/Peter Nicholls
As transformações em Calais
Em pouco mais de três meses o número de moradores acampados na selva, em Calais, mais do que dobrou: em outubro eram mais de 6 mil imigrantes Foto: REUTERS/Pascal Rossignol
As transformações em Calais
No fim de 2015 o governo francês construiu uma série de abrigos com contêineres em Calais capazes de abrir centenas de imigrantes que deixaram suas ba... Foto: REUTERS/Benoit TessierMais
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Visão aérea da "selva" mostra a área onde foram construídos os abrigos temporários (ao fundo) capazes de abrir centenas de imigrantes que aguardam em ... Foto: REUTERS/Pascal RossignolMais
As transformações em Calais
Depois da confirmação que as autoridades francesas demoliriam parte da "selva", os imigrantes realizaram uma série de protestos, entraram em confronto... Foto: REUTERS/Pascal RossignolMais
As transformações em Calais
Desolado, imigrante (ao fundo) senta no teto de tenda enquanto observa trabalhadores contratados pela prefeitura de Calais demolirem parte do barracos... Foto: REUTERS/Pascal RossignolMais
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Imigrante observa escavadeira retirando restos do barracos demolidos pela prefeitura de Calais na quinta-feira, 3 Foto: AFP / PHILIPPE HUGUEN
As transformações em Calais
A polícia antidisturbios da França acompanha imigrante ilegal em Calais que carrega seus pertences em um carrinho de mercado; desde o fim de fevereiro... Foto: AFP / PHILIPPE HUGUEN Mais
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“Estou satisfeito porque mulheres, crianças e homens que viviam em condições indignas agora podem passar a uma instalação mais humana”, afirmou Carême ao jornal Le Monde.
Contrastando com os contêineres de Calais, as cabanas de madeira têm ducha, banheiros e espaços de convivência, como cozinha e escola. Voluntários de ONGs oferecem serviços de refeições, aulas de língua e atendimento médico – o que também existe na “selva” de Calais.
No entanto, ao contrário do que se pode imaginar, o campo de Grande-Synthe, que desafoga a favela de Calais, não é bem vista pelas autoridades francesas. O Ministério do Interior reclama, por exemplo, que as normas de segurança impostas no Centro de Acolhimento Provisório (CAP) – que incluem a captação de impressões digitais – não são aplicadas no novo campo.
Oposição. Para Marianne Humbersot, ativista do Centro de Auxílio Jurídico, a própria iniciativa do governo de desmontar a maior área da “selva” de Calais é uma forma de minar o novo campo. “O governo quer saturar Grande-Synthe o mais rápido possível”, acusa Marianne.
O certo é que as autoridades regionais e nacionais não demonstram entusiasmo pela iniciativa. Enquanto a MSF fez o maior aporte financeiro, investindo € 2,6 milhões na estrutura, e a prefeitura da cidade de Dunkerke contribuiu com € 500 mil, Paris não colocou um centavo no projeto, assim como o governo do departamento de Nord, onde Grande-Synthe está situada. “Não estamos cogitando isso”, afirmou o administrador regional, Jean-François Cordet, em entrevista à agência France-Presse.
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A 'nova selva' em Calais, na França
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Nova selva em Calais
A água é escassa no campo de imigração ilegal na região de Calais, na França Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
Nova selva em Calais
A água é escassa no campo de imigração ilegal na região de Calais, na França Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
Nova selva em Calais
A água é escassa no campo de imigraçãoilegal na região de Calais, na França Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
Nova selva em Calais
Imigrantes vivem em campo improvisado na região de Calais Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
Nova selva em Calais
Kabil Omarhel, de 14 anos, chegou do Afeganistão Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
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Bahadel Djabahel, de 15 anos, e Kabil Omarhel, de 14, são imigrantes do Afeganistão Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
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Ocampo de migrantes de Calais, conhecido como "nova selva" Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
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Imigrantes improvisam moradia na "nova selva" em Calais Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
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Igreja improvisada no acampamento ilegal de Calais Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
Nova selva em Calais
Béniamin Mabte, migrante eritreu que atravessou o Mar Mediterrâneo Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
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Lixo acumulado no campo "nova selva", em Calais Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
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Campo de migrantes de Calais, na França Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
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Daniel Tekaly, 20 anos, migrante eritreu que cruzou o Mediterrâneo em bote Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
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Migrantes anônimos que se deixaram fotografar durante tentativa de cruzar o Eurotúnel Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
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Migrantes anônimos que se deixaram fotografar durante tentativa de cruzar o Eurotúnel Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
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Ali A., 26 anos, sírio de Darha que fugiu do país para não ter de lutar no Exército de Bashar Assad Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
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Barreira da polícia contra os estrangeiros que tentam ingressar na área do Eurotúnel em Calais Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
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Barreira da polícia contra os estrangeiros que tentam ingressar na área do Eurotúnel em Calais, na França Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
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Barreira da polícia contra os estrangeiros que tentam ingressar na área do Eurotúnel em Calais Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
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Migrantes anônimos que se deixaram fotografar durante tentativa de cruzar o Eurotúnel Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
Nova selva em Calais
Migrantes anônimos que se deixaram fotografar durante tentativa de cruzar o Eurotúnel Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
Nova selva em Calais
Barreira da polícia contra os estrangeiros que tentam ingressar na área do Eurotúnel em Calais Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
Além de incomodar a estratégia de desmobilização de Calais, o novo acampamento tem um inconveniente em época de ameaça terrorista. Situado junto à fronteira com a Bélgica e próximo de uma estrada com alto tráfico de caminhões que viajam pela Europa, o acampamento é considerado um ponto fraco no controle de atentados e para a segurança dos próprios imigrantes, que não medem os riscos para subir em caminhões e trens que tenham como destino a Grã-Bretanha.
“A solução não passa por um deslocamento de um campo para um outro, no qual a localização causa problemas”, afirmou o ministro socialista do Interior, Bernard Cazeneuve, na quarta-feira. “A prioridade do governo é o desmantelamento das favelas.”