Ataques terroristas consolidam recessão nos EUA

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Por Agencia Estado
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Os ataques terroristas aos Estados Unidos, ocorridos há um mês, resultaram não somente na união do povo norte-americano contra o terror mas também num consenso entre os analistas de Wall Street em relação à economia do país. Se antes do dia 11 de setembro havia quem duvidasse de que os Estados Unidos estavam em recessão, agora o trabalho se concentra em medir a magnitude da recessão e quando ela dará lugar a uma recuperação. Os analistas calculam, de um lado, os prejuízos materiais e humanos da tragédia e ponderam, em contrapartida, o socorro do governo, na forma de estímulos fiscais e de redução das taxas de juros. Cresce o consenso de um ciclo em V (contração forte seguida de recuperação acelerada) da economia norte-americana até o final de 2002. ?A economia deverá apresentar um ciclo em V mais pronunciado nos próximos 18 meses, isto é, os efeitos iniciais negativos desse choque econômico recente deverão dar lugar a uma reaceleração da demanda doméstica no segundo semestre de 2002?, disse à Agencia Estado o economista-chefe para Estados Unidos do banco ABN-Amro, Steve Ricchiuto. Ele projeta um Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos negativo para o quarto trimestre deste ano (taxa anualizada de ?2,7% sobre o trimestre anterior) e também para o primeiro trimestre de 2002 (-1%). ?O PIB do terceiro trimestre deste ano deverá ficar levemente negativo?, acrescentou. Segundo Ricchiuto, a recuperação somente deverá se materializar a partir do terceiro trimestre de 2002, quando ele projeta um crescimento de 4,5% do PIB norte-americano. ?É quando a posição financeira de empresas e consumidores deverá ter melhorado significativamente, após um esforço desses agentes econômicos em reduzir o seu nível de endividamento e também os seus gastos durante o início do ano?, explicou. Na opinião do economista-senior para Estados Unidos do banco J.P. Morgan, Bruce Kasman, a economia norte-americana já estava em recessão antes dos ataques terroristas do dia 11 de setembro. ?Já havia uma dinâmica recessiva em gestação por algum tempo. Os ataques acabaram exacerbando esse processo de desaceleração?, explicou. Antes dos ataques, segundo ele, a economia norte-americana já apresentava três elementos que caracterizam um período recessivo: redução das margens de lucros das empresas, aumento das demissões e taxa de desemprego, e queda na confiança do consumidor, provocando retração nos gastos. ?As margens de lucro do setor não-financeiro, por exemplo, caíram 8,1% no segundo trimestre deste ano, eliminando todo o ganho acumulado desde 1992?, citou Kasman. Segundo ele, os ataques terroristas do dia 11 de setembro, combinado com os prejuízos e interrupções na atividade de vários setores da economia, vão resultar numa queda de 1 ponto percentual do PIB norte-americano no terceiro trimestre deste ano, encerrado no final de setembro. O economista do JP Morgan estima que o PIB dos Estados Unidos no terceiro trimestre deste ano deverá registrar uma contração de 2%. ?Essa taxa negativa poderá ainda ser maior na medida que se divulgue informações atualizadas sobre a queda nos gastos dos consumidores?, ressaltou. De acordo com Kasman, o impacto maior sobre o PIB dos atentados será via gastos de consumidores. ?A preocupação com a segurança nos aviões provocou uma queda substancial de viagens aéreas, que, no final de setembro, chegaram a ficar apenas a 45% do nível do ano passado?, explicou. Dominó Como um efeito dominó, a taxa de ocupação dos hotéis também caiu fortemente, sem contar na redução de aluguel de automóveis, gastos com restaurantes e entretenimento. ?Preocupações com o futuro da economia também provocaram retração na compra de bens de preço mais elevado, como automóveis e bens duráveis para o lar?, informou Kasman. Ele estima que o PIB norte-americano acumulado do terceiro e quarto trimestres de 2001 e também o primeiro trimestre de 2002 deverá ter uma variação negativa de 1,3%. ?A taxa de desemprego deverá subir para ao redor de 6% ao ano?, acrescentou. ?Comparada com contração da atividade nos outros períodos pós-segunda guerra mundial, essa será uma recessão moderada.? A recuperação, segundo ele, virá a partir do segundo trimestre de 2002, quando o PIB crescerá 3%, passando para um crescimento de 4% nos últimos dois trimestres de 2002. A expectativa da maioria dos analistas em Wall Street de uma recuperação acelerada da economia já em meados do ano que vem deve-se à resposta imediata do governo norte-americano aos impactos da tragédia do dia 11 de setembro, tanto pelo corte agressivo das taxas de juros quanto pelas medidas fiscais. ?Em razão dos estímulos significativos, em termos monetário e fiscal, acredito que uma forte recuperação econômica deverá começar no segundo semestre de 2002?, afirmou o economista-senior da Merrill Lynch, Bruce Steinberg. Ele acredita que o PIB norte-americano estará crescendo a uma taxa de 5% no segundo semestre do ano que vem. Do lado monetário, Steinberg espera mais um corte da taxa de juros por parte do Federal Reserve (Fed), que já reduziu os juros em 400 pontos-base desde o início deste ano (passaram de 6,5% ao ano para 2,5% ao ano). O economista da Merrill Lynch prevê um novo corte de 50 pontos-base até o final do ano, o que trará a taxa dos Fed Funds para 2% ao ano. Do lado fiscal, Steinberg disse que um estímulo substancial está mais evidente. Ele acredita que uma quantia adicional de nada menos que US$ 150 bilhões será acrescentada ao orçamento norte-americano de 2002, na forma de gastos extras e cortes de impostos. ?Essa quantia corresponderia a 1,5% do PIB e os efeitos multiplicadores vão acentuar os impactos na economia, daí a minha expectativa de forte recuperação?, afirmou. De imediato, o Congresso norte-americano aprovou a liberação de US$ 40 bilhões para gastos emergenciais para ajuda às vítimas e reconstrução da área atingida no distrito financeiro de Nova York por conta dos atentados terroristas. Outros US$ 5 bilhões em socorro financeiro foram liberados para as companhias aéreas em dificuldades (mais a promessa de US$ 10 bilhões em garantias de empréstimos). Em seguida, o Congresso concordou em atender ao pedido do presidente George W. Bush de verba adicional de US$ 25 bilhões para gastos no ano fiscal que começou no dia 1º deste mês. Além disso, o presidente Bush solicitou ao Congresso, na semana passada, um valor adicional entre US$ 60 bilhões e US$ 75 bilhões num pacote fiscal para reativar a economia norte-americana. ?Sem contar que já estão programados para entrar em vigor em 2002 cortes de impostos equivalentes a US$ 70 bilhões?, disse Steinberg, da Merrill Lynch. Esses cortes de impostos foram promessas de campanha do presidente Bush. A medida foi aprovada recentemente e já resultou na injeção de US$ 20 bilhões neste ano com o envio de US$ 300 de devolução de imposto para cada contribuinte. A Economia Um Mês Depois dos Atentados nos EUA - Índice

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