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Até Bush admite que EUA não vão bem na guerra

Por Agencia Estado
Atualização:

Convencidos de que, vitoriosos na guerra fria, os Estados Unidos podiam afirmar sua liderança internacional pelo simples exercício de seu imenso poder militar e econômico, os políticos americanos passaram boa parte da década passada cortando o orçamento do Departamento de Estado e dos serviços de informação e propaganda internacional do país. O fato de o governo federal estar, na época, acumulando saldos orçamentários crescentes não foi suficiente para impedir decisões como, por exemplo, a extinção da Agência de Informação (USIA) no final do governo Clinton e a incorporação de seus funcionários ao desmoralizado quadro de funcionários do Departamento de Estado. Agora, forçado a travar uma guerra sem precedentes contra uma cadeia invisível de terroristas, o governo americano está pagando o preço de anos de desinvestimento no que seus funcionários chamam de ?diplomacia pública?. Ex-diplomatas americanos reconhecem que os EUA estão singularmente despreparados para travar um conflito que é, em larga medida, uma luta pelos corações e mentes do mundo islâmico. O próprio presidente George W. Bush reconheceu o problema na entrevista coletiva que deu, na semana passada. Ele disse que os EUA ?precisam fazer um melhor trabalho? ao explicar sua ações nos países árabes e islâmicos, onde o sentimento anti-americano cresce na proporção direta da duração dos ataques contra o Afeganistão. ?Eu estou chocada com a dificuldade de transmitir a nossa mensagem?, disse ao Washington Post a subsecretária de Estado para Diplomacia Pública, Charlotte Beers, uma ex-executiva de empresas de publicidade sem experiência diplomática prévia. A dificuldade é acentuada pelo fato de os países islâmicos, experialmente os árabes, terem hoje acesso a informações e pontos de vista dos vários atores do conflito em língua árabe, através da rede de televisão a cabo Al-Jazeera, do emirado de Catar. Duas semanas atrás, quando o líder do emirado visitou Washington, altos funcionários da administração pediram-lhe que controlasse o fluxo de notícias e não desse tanto espaço aos pronunciamento de Osama bin Laden e de seus associados e simpatizantes. O governo do Catar, que controla a Al-Jazeera, não escondeu sua contrariedade diante do pedido. Em lugar de atendê-lo, a Al-Jazeera reiterou seus pedidos de entrevistas a Bush e a outras altas figuras do governo. Nesta segunda-feira, a conselheira de segurança da Casa Branca, Condi Rice, falou à emissora. Desde quinta-feira, dois outros altos funcionários da administração também foram entrevistados. Nesta terça-feira será a vez do secretário de Defesa, Donald Rumsfeld. Mas a Casa Branca ainda não decidiu se Bush falará à Al Jazeera. O fato de ter que confiar numa emissora que não controla para tentar convencer árabes e muçulmanos de que a guerra que os EUA travam não é contra o Islã é revelador do imenso desafio que Washington tem na área de propaganda. Parte da dificuldade para atingir um público maior é a crescente impopularidade dos EUA na região. Esta não deriva apenas de uma década de ataques contra o Iraque ou da antiga acusação, nos países árabes e islâmicos, sobre a política de dois pesos e duas medidas que Washington tem em relação a eles e em especial aos palestinos, de um lado, e aos isralenses, de outro. Ex-diplomatas americanos reconhecem que parte importante do problema é a inconsistência entre o que os EUA dizem e fazem, ou seja, o discurso em favor da democracia e da liberdade de expressão, por um lado, e seu apoio a regimes autoritários e impopulares como os do Egito e da Arábia Saudita ? ou, nos anos 80, do próprio Saddam Hussein, o ditador do Iraque, que já foi visto, em Washington, como um aliado frente ao regime islâmico do Irã. Para Edward P. Djerejian, ex-secretário de Estado-adjunto para o Oriente Próximo na última administração republicana e ex-embaixador na Síria e em Israel, os EUA só conseguirão convencer os árabes e islâmicos sobre sua mensagem em favor da democracia e da liberdade ?se forem percebidos como um país que não apenas fala, mas faz?, ou seja, que ?executa políticas que representam seus ideais?. Leia o especial

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