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Aung Suu Kyi encontra radialista da BBC de quem conhecia apenas a voz

Líder de Mianmar ouvia Dave Lee Travis diariamente durante seus 15 anos de prisão domiciliar

Por BBC Brasil
Atualização:

LONDRES - Acostumada a seguir a Radio 1 da BBC enquanto cumpria 15 anos prisão domiciliar, a líder opositora de Mianmar, Aung San Suu Kyi, conheceu pessoalmente nesta terça-feira o ex-radialista Dave Lee Travis, de quem conhecia apenas a voz.

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Veja também:link Após 21 anos, Suu Kyi recebe seu Nobel da Paz link Na Suíça, Suu Kyi pede pressão sobre junta militar Ela visitou o escritório do Serviço Internacional da BBC em Oxford Circus, no centro de Londres, e conheceu a equipe da BBC Mianmar. "Por causa da BBC eu nunca perdi o contato com o meu povo, com o movimento para a democracia em Mianmar e com o resto do mundo", afirmou Suu Kyi. A líder opositora disse a Travis que ficou emocionada quando, em prisão domiciliar, ouviu pela primeira vez em seu programa uma entrevista com um menino de Mianmar. "Isto é o Serviço Internacional", disse Travis. "Fico feliz em saber que fiz parte de coisas que ajudaram", afirmou. Ao conhecer as instalações da BBC Mianmar, Suu Kyi fez sugestões para a programação e disse que se sentia como se retornasse para a família. Segundo o editor Tin Htar Swe, receber Suu Kyi foi uma honra e uma experiência inesquecível para toda a equipe. Mais cedo, ela esteve na London School of Economics, onde participou de um debate. Questionada sobre por que não condena a Junta Militar que governa Mianmar, afirmou que "não se resolve conflitos com condenações". Disse que a melhor abordagem é descobrir as raízes do problema e solucioná-lo. Suu Kyi está fazendo uma visita de duas semanas à Europa para agradecer os esforços de líderes da região pela sua libertação, em 2010, após 15 anos de prisão domiciliar intercalados por períodos de perseguição e liberdade vigiada. A ativista viajou para o exterior pela primeira vez em 24 anos no mês passado, após conquistar uma cadeira no Parlamento de seu país. Foi para a Tailândia. Até então, um dos grandes medos de Suu Kyi era não conseguir voltar ao seu país. Na Europa foi à Noruega para aceitar um prêmio Nobel que recebeu há 21 anos e a Genebra, onde pediu na ONU mais investimentos em seu país. Reformas políticas Mianmar era considerado um dos regimes mais fechados do globo, mas algumas reformas políticas permitiram que neste ano a oposição participasse de uma eleição pela primeira vez em duas décadas. Filha de um herói da independência assassinado em 1947, Suu Kyi morou com a mãe na Índia na infância. Na juventude, estudou filosofia, política e economia na Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, onde conheceu seu marido, o acadêmico Michael Aris. Após trabalhar no Japão e Butão, a ativista resolveu criar seus dois filhos na Grã-Bretanha. Ela voltou a Yangun em 1988, para cuidar da mãe doente, em um momento em que estudantes, trabalhadores e monges tomavam as ruas do país com protestos pró-democracia.

Suu Kyi liderou uma série de comícios contra o então ditador, general Ne Win, para pedir eleições livres. Os protestos, porém, foram reprimidos pelo Exército e, em setembro de 1988, o país foi alvo de outro golpe militar. Eleições foram convocadas em 1990 e vencidas por Suu Kyi e pelo LND, mas os militares se recusaram a entregar o poder. Prisão domiciliar Suu Kyi permaneceu sob prisão domiciliar em Yangun por cerca de 15 anos e inicialmente não podia receber visitas nem de seus filhos e do marido, que morreu de câncer em 1999. Quando o marido adoeceu, Suu Kyi recebeu permissão para visitá-lo na Grã-Bretanha, mas recusou a oferta por medo de não poder voltar para Mianmar. As reformas políticas que permitiram a votação no país após meio século de governo militar foram adotadas depois que a União Europeia concordou em suspender formalmente a maior parte das sanções contra Mianmar por um ano.

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