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Barañao, a química ideal para gabinetes antagônicos

Kirchnerista titular de Ciência e Tecnologia tornou-se macrista na quinta-feira; mudou de chefe, mas não de posto

Por Rodrigo Cavalheiro e CORRESPONDENTE/BUENOS AIRES
Atualização:

BUENOS AIRES - O pesquisador Lino Barañao havia esvaziado o gabinete de ministro de Ciência e Tecnologia e programado férias com os filhos quando descobriu que seria seu próprio sucessor.

Tão surpreso quanto o restante do país com o convite de Mauricio Macri para ficar na pasta, perguntou a Cristina Kirchner se podia. “Se ela tivesse dito não, teria recusado, por lealdade pessoal. Ela me escolheu e me apoiou em toda a gestão”, disse o químico à rádio La Red.

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Questionado durante a campanha sobre algum ponto positivo nos oito anos de Cristina, Macri citava o investimento em ciência. Em sete anos, regressaram à Argentina 1.130 pesquisadores – a maioria deixou o país na crise de 2001. Em 2008, o salário médio deles era de 5,6 mil pesos (R$ 2,2 mil). Em 2014, passou a 22 mil pesos (R$ 8,7 mil). Entre os bolsistas, aumentou de 3 mil pesos (R$ 1,2 mil) para 10 mil (R$ 4 mil). “Disse para aceitar se garantissem total liberdade e mesmos recursos”, explicou Cristina numa das últimas inaugurações, ao lado do pesquisador pertencente a um raro subgrupo kirchnerista, o que Macri deseja ver por perto.

“O que mais valorizo nele é a capacidade de ouvir”, falou Barañao do novo chefe, dias antes de Cristina acusar Macri de gritar com ela em um telefonema para exigir que lhe entregasse a faixa presidencial na Casa Rosada. Um mês antes do elogio, Barañao havia criticado a gestão em Buenos Aires e defendido pesquisadores que lavavam pratos em público, parte da campanha da categoria para ilustrar o que ocorreria se Macri vencesse.

Se dependesse do próprio voto, Baranão, aos 61 anos, provavelmente teria voltado às pesquisas e aulas de química biológica. Estaria perto de se aposentar e ensaboar louça.

Daniel Scioli, seu escolhido para presidente, derrotado por Macri no segundo turno por 51,3% a 48,7%, havia anunciado Daniel Filmus para seu lugar. Era tão provável a primeira transição na pasta, criada por Cristina em 2007, que Barañao chegou a dar dicas ao sucessor que não teve. Manteve o emprego porque 680.607 eleitores não seguiram seu exemplo. Foi essa a diferença a favor de Macri.

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