Preocupado com o agravamento da situação na Venezuela e sua repercussão no Brasil, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, quer enviar de volta a Caracas o embaixador Rui Pereira. Ele está no Brasil desde setembro, quando, em protesto contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, Nicolás Maduro chamou seu embaixador em Brasília para consultas e, em reação, o governo brasileiro fez o mesmo.
“Acho importante ter um embaixador, com status de embaixador, porque a Venezuela pode vir a ser um grande problema diplomático brasileiro e é um grande país sul-americano”, disse Aloysio em entrevista ao ‘Estado’, no dia 2. “Vou mandar de volta.” O chanceler brasileiro acrescentou ser importante ter em Caracas alguém capaz de circular entre a oposição e o governo. Outro ministro brasileiro confirmou ao ‘Estado’ que a decisão está tomada.
O momento certo para o envio do embaixador ainda está por ser definido. Rui Pereira está engajado na campanha da jurista Flávia Piovesan para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos. A eleição será em junho. De acordo com fontes, não existe um atrelamento entre o final desse processo e a volta do embaixador.
Durante seu período em Caracas, Pereira passou por um momento de tensão com Aloysio. Foi em junho de 2015, quando um grupo de senadores decidiu ir à Venezuela para visitar o líder político de oposição Leopoldo López, que está detido na prisão militar de Ramo Verde. A delegação foi hostilizada por manifestantes pró-governo, que cercaram o veículo em que estavam e bateram nas janelas. Pereira recebeu os parlamentares no aeroporto, mas não os acompanhou. O atual chanceler estava no grupo, na condição de presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado.
O governo brasileiro tem gradualmente elevado o tom de suas críticas à situação na Venezuela. Na semana passada, o presidente Michel Temer recebeu no Palácio do Planalto a ativista de oposição Lilian Tintori, mulher de Leopoldo López. No encontro, segundo relato do porta-voz da Presidência, Alexandre Parola, o presidente “insistiu ser fundamental pôr fim a prisões políticas, garantir as liberdades individuais, respeitar a independência dos poderes, e definir e cumprir calendário eleitoral.”