ALEXANDRIA E FAIRFAX, VIRGÍNIA - Com habilidade de chocar, inspirar e transmitir suas propostas em declarações bombásticas, Donald Trump conquistou as bases do Partido Republicano e iniciou uma rebelião que pode implodir a legenda fundada em 1854.
O bilionário capturou os eleitores com seu estilo personalista e as promessas de deportar imigrantes ilegais, construir um muro na fronteira com o México, impedir a entrada de muçulmanos no país e impor tarifas de 45% nas importações da China.
Trump nunca detalhou como pretende implementar essas medidas, consideradas pouco realistas por seus críticos. Mas seus seguidores parecem não se importar com isso. O que os atrai é a personalidade de Trump, sua história pessoal de sucesso nos negócios e a expectativa de que administrará o país como um grande empreendimento para “tornar a América grande de novo”, como diz o slogan de sua campanha.
Os eleitores também são seduzidos pelo desafio de Trump às elites partidárias e à política tradicional, e por seu desapreço pelo politicamente correto. “Ele não tem ligação com nenhum grupo lobista e financia sua própria campanha”, disse ao Estado Steve Patrick, que ontem votou em Trump. Ironicamente, ele trabalha como lobista de militares, na defesa de aumentos de salários e benefícios.
Patrick não se importa com a falta de detalhes das propostas do magnata. “Os outros candidatos nunca cumprem o que prometem. Quando são eleitos, o que importa é quem financiou a campanha. Alguém que não tem financiamento dos outros fará o melhor para o país”, opinou. “Eu gosto do jeito do Trump. Ele não mente e descreve as coisas como elas são.”
Discurso. O talento de comunicador lapidado no reality show O Aprendiz colocou Trump no centro da cobertura jornalística dos EUA desde o lançamento de sua candidatura, em junho. Levantamento do Media Research Center mostra que o bilionário recebeu 78% da cobertura da CNN sobre candidatos republicanos em agosto. Jeb Bush, que era o preferido das elites partidárias, teve apenas 12%.
Trump se manteve na liderança da disputa desde o início, apesar de contrariar uma série de dogmas da legenda e de atacar o ex-presidente George W. Bush, o último republicano a ocupar a Casa Branca. Sem uma ideologia definida, ele tem um discurso xenofóbico que atrai grupos defensores da supremacia branca e propostas econômicas populistas não muito distantes das do social-democrata Bernie Sanders. O bilionário critica acordos de livre comércio e promete trazer de volta para os Estados Unidos as fábricas americanas transferidas para China e México na onda da globalização.
Mundo. A política externa de Trump também é distante da postura intervencionista e militarista adotada pelos republicanos sob Bush. “Os Estados Unidos não são a polícia do mundo”, repete Trump. E, para horror da elite partidária pró-Israel, ele disse que será “neutro” no conflito entre o país e os palestinos. Mas promete torturar suspeitos de terrorismo e ir atrás de suas famílias, algo que contraria princípios básicos do Direito Internacional.
O funcionário público John Young votou em Trump por acreditar que ele é o único candidato que pode vencer as eleições gerais de novembro em um provável enfrentamento com a candidata democrata e ex-secretária de Estado Hillary Clinton. “Ted Cruz e Marco Rubio são muito conservadores e não conseguirão ganhar”, disse Young, que buscava voluntários para o Partido Republicano em um centro de votação de Fairfax, na Virgínia. “Trump é um empresário que sabe gerar riqueza, negociar e fazer as coisas acontecerem.”
A premissa da candidatura do bilionário é a de que os EUA estão em decadência e que ele é a pessoa certa para restaurar o esplendor supostamente perdido. “Eu amo todas as suas políticas, amo a sua política externa”, afirmou a garçonete Rachel Wester. “Ele é um grande homem, que defende suas convicções e fará a América grande de novo.”