WASHINGTON - O bombardeio dos EUA a uma base aérea síria na quinta-feira é um “recado” à Coreia do Norte e a outros países que representam ameaça internacional, disse ontem o secretário de Estado americano, Rex Tillerson. No sábado, o governo de Donald Trump reforçou os sinais na direção de Pyongyang com o envio de cinco navios militares para águas territoriais da Península Coreana.
“É prudente fazer isso, não?”, respondeu o chefe do Conselho Nacional de Segurança da Casa Branca, H.R. McMaster, quando perguntado sobre o deslocamento da frota em entrevista à Fox News. “Esse é um Estado delinquente que agora tem um regime com capacidade nuclear”, justificou. Segundo ele, Trump pediu uma “ampla gama de opções” para “remover” essa ameaça aos EUA e seus aliados.
Apesar do verbo escolhido por McMaster, Tillerson disse em entrevista à ABC que o objetivo americano é promover a desnuclearização da Península Coreana, não a mudança de regime em Pyongyang.
Em resposta à ação americana, o governo norte-coreano afirmou que o ataque à Síria justifica a necessidade de seu programa nuclear. “Vamos reforçar de todas as maneiras nossa capacidade de autodefesa para enfrentar os movimentos cada vez mais irresponsáveis dos EUA na direção de uma guerra e nos defender com nossa própria força”, disse uma autoridade do Ministério das Relações Exteriores, segundo a Associated Press. “Algumas forças estão propagando que o recente ataque militar dos EUA na Síria é uma advertência para nós, mas não estamos assustados.”
O programa nuclear do regime liderado por Kim Jong-un foi um dos principais temas do encontro entre Trump e o presidente chinês, Xi Jinping, na semana passada. Na véspera da chegada do líder chinês aos EUA, a Coreia do Norte realizou mais um teste de mísseis balísticos, o que foi interpretado como um desafio à pressão americana.
Escalada. Realizado em retaliação a um ataque com armas químicas que deixou pelo menos 86 pessoas mortas na terça-feira, o bombardeio americano na Síria continuou a elevar a tensão entre os atores envolvidos na guerra civil do país, na qual 400 mil pessoas morreram nos últimos seis anos.
A Rússia e o Irã reiteraram ontem o apoio ao regime de Bashar Assad e disseram que a ofensiva favoreceu a ação de terroristas e dificultou a obtenção de uma saída diplomática para o conflito. Os presidentes Vladimir Putin e Hassan Rohani conversaram por telefone e concordaram que o ataque foi uma “flagrante violação” da soberania de um país independente.
“Esse é um movimento unilateral que precisa ser revisto e condenado em um encontro do Conselho de Segurança da ONU”, declarou Rohani. “Teerã está pronta para aumentar sua cooperação com Moscou na campanha contra terroristas.” O líder iraniano também conversou ontem com Assad.
A embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Haley, disse que será impossível obter a paz na Síria com a permanência do líder atual no poder. “Tirar Assad não é a única prioridade. Nós estamos obviamente tentando derrotar o Estado Islâmico. Em segundo lugar, não vemos uma Síria pacífica com Assad lá. Em terceiro lugar, está acabar com a influência do Irã”, afirmou em entrevista à CNN.
Mas nenhum integrante do governo Trump disse que os EUA se moveriam para retirar Assad do poder. A expectativa é obter isso por meio de um processo político, no qual Moscou desempenharia um papel crucial.
“A Rússia deveria perguntar a si própria: o que estamos fazendo aqui? Por que estamos apoiando esse regime assassino que comete assassinato em massa de sua própria população, usando as armas mais abomináveis que existem?”, perguntou McMaster. A reação da Rússia ao ataque na Síria é uma indicação de que a tarefa de convencimento não será fácil.