VISEGRAD, BÓSNIA-HERZEGOVINA - A área de florestas na fronteira entre Sérvia e Bósnia-Herzegovina tornou-se uma nova maneira de chegar à Europa para milhares de refugiados que fogem da guerra e da miséria.
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O aumento dos controles de fronteira da Bulgária com a Turquia e o fechamento da passagem entre Hungria e Sérvia deslocou a rota dos refugiados para a Bósnia-Herzegovina, um dos países mais pobres da Europa e de onde os migrantes tentam seguir caminho para a Croácia, já dentro da União Europeia (UE).
Este, por exemplo, é o plano de Wahed Hussain, de 25 anos, que abandonou o Paquistão há quatro anos devido à violência sectária que matou seu pai e seu irmão. Ele passou mais de três anos na Grécia, onde trabalhou com imigrantes ilegais em uma fábrica de plástico.
Durante o último inverno, Hussain cruzou da Sérvia ao leste da Bósnia, perto da cidade de Visegrad, por uma área de floresta coberta de neve que se tornou mais uma escala da rota seguida por grupos de emigrantes de Síria, Iraque, Paquistão, Afeganistão e Marrocos.
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Neste ano, a polícia bósnia localizou 639 imigrantes ilegais, aos quais se somam outros 661 que foram interceptados enquanto tentavam entrar no país procedentes da Sérvia ou de Montenegro. Esses dados representam um aumento de 72% em relação aos dados de 2017 e de 1.200% em relação ao ano anterior.
Os que são localizados já em solo bósnio são transferidos pela polícia para os centros de identificação e registro, algo complicado porque a maioria viaja como imigrante ilegal. "É muito difícil se comunicar com eles, poucos falam inglês", explicou Eldan Huric, inspetor da guarda de fronteira em Visegrad.
Segundo Huric, a maioria dos refugiados diz ter pago traficantes de pessoas nos países de origem para serem levados até a Sérvia, mas evitam dizer como chegaram à Bósnia-Herzegovina.
"Chegam congelados depois de caminharem muito em tão pouco tempo, e se queixam de dor nos pés. Dormem em florestas, em túneis. Não é muito comum, mas às vezes há grupos com crianças pequenas. Chegam sem comer nem beber durante dias", relatou Huric.
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O comandante da unidade da guarda de fronteira em Visegrad, Zoran Stupic, teme que o número de chegadas aumente na primavera, já que mesmo com o mau tempo invernal eram registradas até 50 chegadas ao dia.
Na Bósnia-Herzegovina há dois centros de asilo: em Delijas, a 30 quilômetros de Sarajevo, e em Salakovac, perto de Mostar, com uma capacidade total para 450 pessoas. Mas só 200 pessoas se alojaram nos centros, após expressarem a intenção de pedir asilo em território bósnio.
Nos centros, os imigrantes têm comida, atendimento médico, ajuda jurídica e acompanhamento psicossocial. "No entanto, não ficam muito na Bósnia-Herzegovina, sobretudo os que são do Oriente Médio. Ficam um ou dois meses, e alguns nem sequer uma semana", contou Dzevad Kostovic, diretor do centro de Delijas.
Outros caminham da fronteira até Sarajevo e depois seguem para o oeste ou noroeste, à região fronteiriça com a Croácia, para tentarem atravessar para esse país. Muitos dormem na mesquita em Velika Kladusa, uma pequena cidade situada nos arredores da fronteira.
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A comunidade islâmica na Bósnia-Herzegovina advertiu às autoridades que cada vez mais os imigrantes buscam refúgio nas mesquitas e outras instalações, principalmente no noroeste, e pediu que o problema seja resolvido.
O ministro de Segurança bósnio, Dragan Mektic, alertou recentemente que "a parte da fronteira pela qual entram é bastante ampla", o que aumenta a dificuldade de controle das chegadas. No entanto, Mektic esclareceu que a situação não chegou a um grau grave que obrigue a ativação de planos de emergência. / EFE