PUBLICIDADE

Brasil decretará emergência social em Roraima e rastreará venezuelanos

Presidente Temer assinará MP para tentar controlar fluxo de imigrantes da Venezuela, que incluirá a criação de uma força-tarefa, comandada por um general do Exército, para monitorar o movimento dos refugiados pelo País

Por Tania Monteiro , Carla Araujo e BRASÍLIA
Atualização:

O presidente Michel Temer vai assinar até sexta-feira uma medida provisória decretando “estado de calamidade social” em Roraima em razão da entrada em massa de venezuelanos no Estado. O decreto também deverá regulamentar a operação, até então inédita. Entre as medidas previstas na MP está a criação de uma força-tarefa, que incluirá cadastramento e monitoramento dos venezuelanos. 

Apesar de o fluxo de venezuelanos não ser recente, o problema foi agravado na semana passada, quando a Colômbia decidiu restringir a entrada de refugiados no país. A força-tarefa brasileira será comandada pelo general Eduardo Pazuello, que ficará responsável por toda a operação em Roraima.

Caminhando com as próprias malas, venezuelanos cruzam a fronteira com o Brasil em direção a Pacaraima, Roraima Foto: REUTERS/Nacho Doce

PUBLICIDADE

O governo ainda discute os termos que constarão na MP que regulamentará a operação. O estado de calamidade normalmente é decretado em catástrofes como seca, enchente ou alguma outra situação crítica. Neste caso, seria uma “calamidade social provocada por migração em massa”, que teria à frente um general e não a Defesa Civil, já que envolve questões de fronteiras. 

Um dos problemas do texto é como será definida a questão do trabalho da Polícia Militar de Roraima, já que ela é subordinada ao governo do Estado, mas terá de trabalhar em conjunto com o Exército e sob o comando dele. O tema é delicado e está sendo objeto de discussões políticas e jurídicas. 

+ Temer promete solucionar crise de refugiados venezuelanos em Roraima até o fim do ano

A ideia inicial é fazer remissão ao artigo 144 da Constituição, que define as Polícias Militares como “forças auxiliares” e “reserva” do Exército. O modelo difere da Garantia da Lei e da Ordem (GLO), quando as Forças Armadas assumem a segurança e promovem as ações por sua conta, como ocorreu no Rio.

A MP não falará sobre liberação de recursos. O montante a ser repassado ainda está sendo discutido com o ministro do Planejamento, Dyogo de Oliveira. Temer tem pressa na assinatura da MP e, por isso, fez inúmeras reuniões ontem para tratar do tema. 

Publicidade

Índias venezuelanas da etnia Warao preparam alimento em abrigo na capital de Roraima, Boa Vista Foto: REUTERS/Nacho Doce

Apesar de o presidente ter exaltado a união de forças políticas em Roraima para resolver os graves problemas do Estado, a disputa local irritou bastante o governo. Muitas discussões ocorreram para disputar o protagonismo das medidas. Há divergências entre a governadora Suely Campos (PP), a prefeita de Boa Vista, Maria Tereza Surita (MDB), e o senador Romero Jucá (MDB-RR), líder do governo no Senado.

Uma das medidas que o governo quer incluir é a permissão para um maior controle da entrada de venezuelanos e o monitoramento de seus deslocamentos no País. Há uma preocupação com a nova Lei de Migração, que entrou em vigor no fim do ano passado, em substituição ao Estatuto do Estrangeiro.

Um dos princípios da lei é a “não discriminação em razão de critérios ou procedimentos pelos quais a pessoa foi admitida em território nacional”. Este e outros trechos da legislação, segundo interlocutores do presidente, criaram uma liberalização para a entrada “excessiva” de estrangeiros, o que dificulta o controle.

Outra preocupação é evitar a reação xenofóbica da população local, pois os estrangeiros já representam 10% da população do Estado. Por dia, entre 700 e 800 venezuelanos entram no Brasil.

O ministro da Justiça, Torquato Jardim, informou ontem que será criado ainda um comitê de coordenação composto por oito ministérios. “Vamos tomar outras medidas, que já estão em andamento, para facilitar a vida do roraimense. Temos de cuidar não apenas do imigrante venezuelano, mas também da população de Roraima”, disse. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.