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Brasil oferecerá apoio a observação na Colômbia

Composição de missão da ONU integrada por países da Celac foi pedido de Bogotá e das Farc para acordo de paz

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Por Vera Rosa
Atualização:
  Foto: JUAN CARLOS ULATE | REUTERS

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff vai reforçar na próxima semana a disposição do Brasil de integrar a missão de observadores internacionais encarregada de verificar o cumprimento do acordo de paz que atualmente está em fase de negociação entre Bogotá e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). O assunto será tratado durante a viagem de Dilma a Quito, capital do Equador, onde ela participará, na quarta-feira, da IV Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).

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O pedido para que os 33 países da Celac acompanhem o desarmamento dos dois lados após a assinatura de um possível tratado de paz foi feito pelo governo da Colômbia e também pela guerrilha. “O Brasil vai participar. Haverá necessidade, provavelmente, de verificação de desarmamento, o que requer tropas policiais em condições de fazer isso”, afirmou o embaixador Paulo Estivallet de Mesquita, subsecretário-geral da América do Sul, Central e do Caribe no Itamaraty.

O embaixador disse que o Brasil tem tradição de identificar explosivos e desarmar minas em áreas de confronto, já fez esse trabalho na Colômbia e na América Central e pode voltar a fazê-lo agora. “Há toda a disposição de colaborar com isso, aliás, em outros aspectos também”, afirmou. “Houve, recentemente, uma missão da Colômbia aqui para conhecer os programas de agricultura familiar, de aquisição de alimentos, de merenda escolar. Eles acham que (esses programas) seriam úteis e adequados às demandas nesses territórios que voltarão ao controle do governo colombiano.”

Dilma já conversou sobre a ajuda à Colômbia na última visita que fez àquele país, em outubro. A proposta colombiana prevê agora que a missão internacional selecionada pela Organização das Nações Unidas (ONU) seja responsável por coordenar a trégua e tenha autoridade para dirimir controvérsias, apresentando relatórios.

A cúpula da Celac será aberta na quarta-feira, mas Dilma desembarcará em Quito no fim da tarde de terça e terá uma reunião bilateral com o presidente do Equador, Rafael Correa. Na pauta da conversa está a relação comercial entre os dois países, que passam por crises. O Equador é um grande exportador de petróleo e vive um momento de perda de receitas.

Odebrecht. Em 2008, Correa expulsou do país a construtora Odebrecht, sob a alegação de que a empresa se recusava a pagar uma indenização pelos danos que haviam causado a paralisação da hidrelétrica San Francisco, a segunda maior do país. A empresa, hoje, é alvo de investigações da Operação Lava Jato.

A Odebrecht tinha sob sua responsabilidade no Equador projetos como o de uma nova hidrelétrica, de um sistema de irrigação e de um aeroporto. Na época, chegou a anunciar sua intenção de pagar as compensações e aceitar as condições do Equador, mas as autoridades disseram ter encontrado “irregularidades por todos os lados”. O caso irritou profundamente o Brasil, que chegou a cancelar uma missão de alto nível a ser enviada a Quito em outubro daquele ano.

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“Tanto isso está superado que a Odebrecht foi selecionada recentemente para realizar uma obra no Metrô de Quito”, afirmou o embaixador Mesquita. “Mais do que qualquer declaração, isso comprova o que já vínhamos constatando ao longo do tempo, que aquele desconforto de vários anos atrás foi superado.”

De acordo com o subsecretário-geral da América do Sul, Central e do Caribe no Itamaraty, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também tem financiado obras no Equador, que tem sido um “mercado importante” para empresas brasileiras.

O ajuste de rota na Celac após a queda do comércio na região também será tema de debates na reunião de Quito. “O comércio caiu muito em relação a valores. Estamos na passagem de um ciclo, Há dez anos as nossas economias, não só as da América do Sul, mas de países desenvolvidos, como Estados Unidos e Canadá, tiveram suas exportações muito voltadas para a Ásia e direcionadas em função da demanda por commodities. Esse ciclo aparentemente acabou”, disse Mesquita.

Questionado sobre se a crise na Venezuela seria tema das discussões da Celac, o embaixador disse não haver previsão sobre isso. “Mas é sempre possível que num encontro entre presidentes o tema seja suscitado”, ressalvou.