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Brasil se recusa a revelar se apoiou sauditas em órgão da ONU sobre mulheres

Por todos os critérios relativos à igualdade de gênero, a Arábia Saudita está os piores colocados no mundo; no ranking do Fórum Econômico Mundial de Davos, Riad ocupa a 140ª posição entre os 144 países avaliados

Por Jamil Chade , correspondente e Genebra
Atualização:

GENEBRA - O governo brasileiro se recusa a revelar se votou pela entrada da Arábia Saudita na Comissão da ONU da Condição das Mulheres. Os sauditas foram eleitos para uma das vagas no influente órgão das Nações Unidas, criando uma onda de protestos por parte de ONGs e ativistas de direitos humanos.

Considerado um dos países com mais discriminação contra as mulheres, a Arábia Saudita obteve 47 votos dos 54 possíveis para fazer parte da comissão entre 2018 e 2022. O voto ocorreu na semana passada no Conselho Econômico e Social da ONU, do qual o Brasil é membro.

Por todos os critérios relativos à igualdade entre homens e mulheres, os sauditas estão entre os piores colocados no mundo. No ranking de igualdade de gênero do Fórum Econômico Mundial de Davos, Riad ocupa a 140ªposição entre os144 países avaliados Foto: KHALIL HAMRA/AP

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Questionado pelo Estado, porém, o Itamaraty justificou o sigilo em revelar qual foi seu voto. “As eleições para a Comissão da Condição das Mulheres da ONU (CSW, na sigla em inglês) ocorrem por meio de voto secreto, razão pela qual o Brasil, assim como todos os demais países envolvidos no processo, não divulgam em quais candidatos votam”, explicou a chancelaria.

Apesar de o procedimento ser secreto, os países têm a liberdade de anunciar qual foi seu voto após o resultado. O governo belga, por exemplo, reconheceu diante do Parlamento que de fato votou a favor dos sauditas. Na Noruega, a oposição entrou com uma petição formal para que o governo explique qual foi seu voto.

Dos países do conselho da ONU, a realidade é que apenas sete deles não votaram pelos sauditas. Dos 54 membros, 23 deles são democracias liberais, entre eles, Austrália, Japão e EUA, além de 10 governos europeus. Entretanto, com interesses econômicos e políticos, diversos acabaram votando pelos sauditas. 

Por todos os critérios relativos à igualdade entre homens e mulheres, os sauditas estão entre os piores colocados no mundo. No ranking de igualdade de gênero do Fórum Econômico Mundial de Davos, Riad ocupa a 140ª posição entre os 144 países avaliados.

Para a entidade UN Watch, a Arábia Saudita é hoje “o regime mais misógino do mundo”. “As violações contra as mulheres são sistemáticas e autorizadas por lei”, acusa o diretor da ONG, Hillel Neuer. “Todas as mulheres precisam ter um guardião, responsável por tomar todas as decisões em seu nome e não podem nem dirigir. Por qual motivo a ONU escolheria esse país para fazer parte de uma comissão que tem como meta a igualdade de gênero?”, questionou. 

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Tradicionalmente, quando um continente apresenta os candidatos para as comissões, não existe votação e os países indicados, no caso, pela Ásia seriam escolhidos por aclamação. Mas, neste ano, o governo dos EUA pediu votação, o que acabou ocorrendo em sigilo. 

Mas a vitória dos sauditas iniciou crises em outras partes do mundo. Ao reconhecer o voto a favor, o primeiro ministro belga, Charles Michel, disse ao Parlamento que se “arrepende” da decisão. Segundo ele, a diplomacia belga tomou a decisão sem uma “consideração devida” do caso. 

Documentos vazados ainda apontam que os sauditas propuseram uma barganha com o governo russo. Caso Moscou apoiasse Riad para o órgão, os sauditas apoiariam uma candidatura russa para o Conselho de Direitos Humanos da ONU. O Kremlin também não revelou seu voto. 

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