Brasileiro ganha us$ 25 mil para ‘startup canábica’

Um dos brasileiros que foram viver no Uruguai só por causa da erva, gaúcho teve ajuda estatal para criar sensores que controlam as plantas à distância

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Por Murillo Ferrari e Montevidéu
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MONTEVIDÉU - O mercado dos jogos eletrônicos, em especial dos videogames, é um dos que está em expansão no Brasil e no mundo, e as carreiras relacionadas a ele têm atraído cada vez mais quem busca novas aventuras e salários atraentes, segundo consultorias especializadas em recrutamento pessoal.

Para o gaúcho Conrado Andrade, de 28 anos, no entanto, essa experiência serviu como ponte para criar seu mais ambicioso projeto. No ano passado, ele recebeu um financiamento de US$ 25 mil da Agência Nacional de Pesquisa e Inovação (Anii) do Uruguai e a pré-venda está programada para ser lançada online em meados de agosto.

O gaúcho Henrique Reichert vive há três anos no Uruguai e se dedica integralmente a atividades ligadas à maconha Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

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Trata-se de La Box, um conjunto de aparelhos eletrônicos e sensores instalado nas salas de cultivo e nos vasos de maconha. O equipamento permite que informações cruciais para o bom crescimento da planta, como luminosidade, temperatura e umidade sejam monitorados e os aparelhos eletrônicos sejam controlados em tempo real e à distância pelos cultivadores, que ainda podem armazenar dados para comparações futuras.

O protótipo dos aparelhos, que hoje se comunicam por tecnologia sem fio, começou a ser desenvolvido em 2010 por Andrade como uma ferramenta para fornecer dados para um simulador 3D de cultivo de maconha. No meio do caminho, as prioridades se inverteram depois de alta demanda por informações sobre o aparelho, exibido de forma experimental em uma competição dedicada à maconha na capital uruguaia, em 2014.

“Consegui um sócio, Matías Bazan (argentino de 27 anos) e levamos a ideia para a Sinergia, uma incubadora de projetos de tecnologia da América Latina, que viabilizou o dinheiro da Anii para o desenvolvimento do produto”, conta. “Hoje, La Box está pronto e só buscamos a verba para produção. Por questão de custos e em acordo com um investidor brasileiro que apoiou a ideia, devemos levar a produção para a Zona Franca de Manaus”, aponta o brasileiro, que espera entregar as primeiras unidades antes de fim do ano.

Andrade é parte de uma geração de brasileiros que se mudou para o país vizinho atraída pelas possibilidades abertas depois da legalização do cultivo da maconha. O consumo da droga já era permitido lá desde 1974.

Outro exemplo é o do também gaúcho Henrique Reichert, de 30 anos, que sempre teve a intenção de trabalhar com algo relacionado à erva, mas achava a ideia difícil de ser realizada em Novo Hamburgo, onde morava e estudava pedagogia. “Pouco depois da legalização da maconha no Uruguai, um amigo me convidou para visitar o país, onde ficamos por sete dias. Quando voltei ao Brasil, só fiquei mais duas semanas, o tempo que gastei para trancar meus estudos, vender meu carro e meus móveis. Depois, me mudei definitivamente para cá”, disse ao Estado.

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Em Montevidéu, onde mora, Reichert criou o site euamaconhaeumacamera.com e um canal no YouTube com o mesmo nome. Nestas plataformas, ele se dedica a “quebrar mitos por meio de debates e informações”, segundo a descrição da página na web. Ele também produz conteúdo jornalístico para o site brasileiro Smoke Buddies, especializado em informações sobre maconha.

Os vídeos online são o que tem feito sua visibilidade no país crescer entre entusiastas da droga, especialmente os brasileiros, que pensam em seguir o mesmo caminho que ele e Andrade. “Tenho recebido uma média de 400 mensagens por semana e 90% delas são de pessoas que querem vir para cá e pedem ajuda”, explica. Ele disse que tenta responder a todos e oferecer assessoria, “tanto gratuita, quanto paga, se a pessoa quiser que eu faça os trâmites burocráticos para ela”.

Outra atividade à qual ele se dedica no Uruguai é o autocultivo da erva, mantendo em sua casa as seis plantas legalmente permitidas, que na última colheita, há menos de dois meses, lhe renderam praticamente os 480 gramas que ele pode produzir anualmente a um custo aproximado de 54.700 pesos (R$ 6 mil). 

Reichert diz que escolheu a opção por considerar o acesso aos clubes caro e a criação da própria organização burocrática. “Mas eu tinha uma ideia quando vim para que pretendo tirar do papel futuramente: formar um clube apenas com brasileiros radicados no país.”

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